António Vilar, Um homem sem dono;

Apresentação do livro
António Vilar, Um homem sem dono
O advogado António Vilar, ex-presidente da Distrital social-democrata do Porto e ex-deputado, dinamizador de inúmeras iniciativas de carácter político, empresarial e social, nomeadamente o Fórum Portucalense, a Fundação Afro-Lusitana, o Instituto Euro-Atlântico e a cooperação entre a Galiza e o Norte de Portugal é o objecto da biografia escrita pelo jornalista José Alberto Magalhães, hoje director de Informação da revista VIVA e, anteriormente à sua reforma, delegado e chefe de redacção da delegação do Porto da Agência Lusa,  que é apresentada na próxima quarta-feira, no âmbito da Feira do Livro do Porto (convite em anexo), numa iniciativa da Editora Vida Económica.

A obra é um percurso biográfico da vida de António Vilar com um grande enfoque nos seus contactos com muitas das personalidades sociais-democratas, do passado e do presente.

Eis alguns excertos:

SOBRE O PPD/PSD
“A social-democracia encontrava-se com o meu pensamento político e quando cons­tatei que era Sá Carneiro que liderava o PPD aderi com todo o entusiasmo. Hoje estão a destruir o partido. O caciquismo e a inerente corrupção, bem como o desprezo dos valores de antes e a emergência, sufocante de interesses pessoais e de grupo, fazem do atual PPD/PSD uma triste sombra do que foi no passado.
 
SOBRE CAVACO SILVA
“Acreditei que fosse um genuíno social-democrata. Hoje, sinceramente, acho que ele é um prestidigitador na política. O que conta para ele foi apenas ele próprio. O seu ideário político é muito frágil, líquido. Democrático, com certeza, mas, ao serviço de um qual­quer caminho. Sobra-lhe em arrogância o que lhe falta de ‘mundividencia’”
 
SOBRE PEDRO PASSOS COELHO
“É, na minha perspetiva, da extrema-direita inconsciente, na sua alegre inconsciência. Falta-lhe sabedoria, substância, lastro político. Tem um discurso redondo, à volta de algumas crenças. Não tem mundo. É daqueles que confundem o mapa com a estrada. Reconheço, porém, que é corajoso, combativo. Segue, enquanto Primeiro-Ministro, o mapa que lhe puseram na frente, o da “Troika”, decerto bem intencionado, mas sem horizontes, sem futuro para Portugal.”
 
SOBRE MARCELO REBELO DE SOUSA
“Acho que é um genial animador da vida política, um grande ‘disco-jockey’ no espetácu­lo que ela também é. Creio ser o melhor candidato de centro-direita às próximas elei­ções presidenciais. Nunca deixo de ouvir o que ele diz, mas nunca o oiço apenas a ele.”

SOBRE RUI RIO
Vilar lamenta que a política seja, muitas vezes, o lugar de refúgio de gente falhada, incompetente para se gerir a si própria. Mas volta, de-pressa, à questão colocada sobre Rui Rio.
“Quando concorreu – e venceu contra Fernando Gomes – as eleições para o que viriam a ser doze anos de Presidente da Câmara do Porto, era, para mim, um quase desconhecido na política. A pouco e pouco percebi que iam colando à pele, convenientemente alguns “clichés” – rigoroso, homem de contas, etc. Sem contrariar que assim seja, é no plano político que tomo posição. E, aqui, com inquietação e pesar, ele aparece sempre aos meus olhos como um pequenino Schauble da políti-ca à portuguesa (será que também quer ser Salazar, como eu queria na minha meninice?). Quanto à seriedade de que faz bandeira política, eu gostaria de saber mais pormenores sobre a razão porque o seu vice-pre-sidente, Paulo Morais – um ativista da transparência e da luta contra a corrupção – abandonou cedo o seu lugar na Câmara do Porto, a que Rui Rio presidia. E quanto à governação da Câmara, ainda não esqueço as muitas situações em que, vingativo, intransigente, sectário, maltratou (e foi maltratado) por aqueles que não iam ao beija-mão, ou tinham projetos diferentes, caso notório de Luis Filipe Menezes.”
Com estas palavras, Vilar parece denunciar a figura de Rio como um ditador. Será assim? Vem pronta a resposta:
“Não. Ainda não.”

PREFÁCIO DE EDUARDO OLIVEIRA FERNANDES, PROFESSOR EMÉRITO DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Quem conhece António Vilar verificará facilmente que este livro não é uma surpresa no conteúdo, sendo que neste se inclui também a própria forma. Um cidadão para quem, como definiu Fernando Pessoa, ‘viver é criar’. É-nos tornada presente uma paisagem feita dos impulsos de um homem que poderia ser um quase-modelo de cidadão na expressão de inteligência, convicção, perseverança, generosidade, solidariedade e, pasme-se, de humildade expressa na verdade e autenticidade deste livro. Um livro que só poderia ser poliédrico, eclético, surpreendente e humano, iluminado e luminoso. Um livro de percurso de vida intensamente vivida, mas também vida em si mesma, porque, como para Gabriel Garcia Márquez, viver é também ‘recordar e a própria maneira como se recorda’. Reunir os amigos numa tertúlia de testemunhos, espécie de ‘ficheiro de trechos de vida’ ou álbum de imagens filtradas pelo olhar de cada um em caleidoscópio, ora com luz ora em contraluz, onde a amizade exacerba a polifonia/policromia das mensagens: o que se viveu e quer testemunhar; o que se consegue dizer; o que se entende e se quer fazer entender ou deixar entender.
Aqui temos o António Vilar, amigo, generoso, intrépido, empreendedor, a borbulhar de ideias, a explodir de iniciativas; homem inteligente, culto, leitor compulsivo, angustiado da completude, para não dizer da perfeição; profissional do Direito reconhecido; empreendedor incansável, indómito e indomável; aberto ao debate mas indisponível para o compromisso fácil e a sujeição aos poderes efémeros, aparelhísticos, corporativos, modísticos ou de sacristia.
Susana Almeida, 15/09/2015
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