“Indústria portuguesa tem capacidade para fornecer os melhores do mundo”
A Hannover Messe de 2022 teve um “impacto brutal, porque os grandes compradores alemães entenderam a qualidade das nossas empresas, isto é, Portugal tem fornecedores de muita qualidade” – afirma Rafael Campos Pereira, vice-presidente da AIMMAP - Associação dos Industriais Metalúrgicos, Metalomecânicos e Afins de Portugal. “A indústria portuguesa tem capacidade para fornecer os melhores do mundo”, acrescenta.
A presença em Hannover será reforçada assim como em outras feiras internacionais, como a Midest, em Paris e Lyon, na AMTS, em Chicago, e em outros mercados, como o Norte de África, o Golfo Pérsico ou a Coreia do Sul.
A presença em Hannover será reforçada assim como em outras feiras internacionais, como a Midest, em Paris e Lyon, na AMTS, em Chicago, e em outros mercados, como o Norte de África, o Golfo Pérsico ou a Coreia do Sul.
Vida Económica – Qual está a ser o impacto da guerra na Ucrânia no vosso setor de atividade?
Rafael Campos Pereira – Estamos ainda a sentir as consequências da pandemia e das medidas que foram tomadas, alegadamente para fazer face à mesma, tendo surgido a seguir a guerra na Ucrânia. Estes fatores têm causado muitos constrangimentos, designadamente o aumento dos custos da energia, a diminuição da mão de obra disponível para trabalhar, o aumento dos custos das matérias-primas e dos transportes, os problemas logísticos. Tudo isto teve um impacto muito grande na nossa atividade. Apesar de tudo, o setor teve o melhor primeiro semestre de sempre para a maioria da empresas e julho e agosto ainda foram excelentes meses. Os últimos meses têm sido mais difíceis, com quebras nas encomendas. Com o aumento das taxas de juro, a inflação, entre outros aspetos, as dificuldades têm crescido.
VE – Qual o impacto da feira de Hannover para a imagem do setor metalúrgico nacional?
RCP – Hannover é a feira mais importante do mundo em termos industriais e tecnológicos e tem uma audiência muito profissional e ao nível das economias mais desenvolvidas. Foi muito importante que os alemães percebessem o profissionalismo das empresas portuguesas e a grande qualidade do produto e dos expositores nacionais. Teve um impacto brutal, porque os grandes compradores alemães entenderam a qualidade das nossas empresas, isto é, Portugal tem fornecedores de muita qualidade. Há um maior número de empresas e de segmentos da indústria alemã que entendem que não somos só ovos moles, vinho e queijo da serra. Há outras coisas, como equipamentos, máquinas, peças para a indústria automóvel. A feira ajuda a perceber tudo isto. A indústria portuguesa tem capacidade para fornecer os melhores do mundo.
A importância do diálogo social
VE – Em Portugal, a representação sindical no setor privado é inferior à de outros países?
RCP – Não sei qual tem sido a evolução dos últimos anos. Não quero comparar Portugal com outros países. Sei que a AIMMAP tem conseguido fazer acordos com os sindicatos da UGT e acordos de contratação coletiva. Ou seja, cria normas para regular as relações entre as empresas e os trabalhadores. Achamos que é muito importante os sindicatos terem representatividade para negociar com a associação e para podermos, em conjunto, criar melhores condições para sermos mais competitivos, termos melhor emprego e haver mais produtividade no setor.
VE – O diálogo social é importante em termos de contributo para o crescimento?
RCP – O diálogo social de boa fé de ambas as partes é muito importante. Temos excelentes exemplos de outros países, em que o diálogo social é muito relevante, como é o caso dos países nórdicos. A AIMMAP valoriza muito a concertação social e a contratação coletiva. Quando as nossas contrapartes estão de boa fé, é possível fazer-se acordos que são bons para ambas as partes. Já é mais difícil fazer acordos com sindicatos mais radicais.
Iniciativas para a internacionalização
VE – Quais são as próximas iniciativas da AIMMAP para a internacionalização?
RCP – Vamos continuar a desenvolver iniciativas nos nossos principais mercados. Consideramos muito importante aproveitar o impacto que teve a nossa presença na Hannover Messe de 2022 e ter uma presença significativa no próximo ano. Estamos a trabalhar nisso em conjunto com a Aicep. Seria um desperdício não se aproveitar o que se criou. Vamos também continuar a estar presentes na feira de subcontratação mais importante da Europa, a Midest, ora em Paris ora em Lyon. E vamos marcar presença ainda noutras feiras, como é o caso dos Estados Unidos, mercado para onde as exportações estão a aumentar. Vamos sobretudo apostar na AMTS, em Chicago. Acreditamos que há outros mercados onde podemos estar presentes, como o Norte de África, o Golfo Pérsico ou a Coreia do Sul.
VE – Quais as vantagens das empresas portuguesas, face às concorrentes estrangeiras?
RCP – A indústria metalúrgica e metalomecânica tem grande capacidade para responder a nichos, pequenas séries, que são características diferenciadoras. Conseguimos ter uma relação qualidade-preço que também nos diferencia. Temos recursos humanos qualificados e bastante resiliência. Obviamente, não podemos dominar a vertente da fiscalidade, que não é amiga das empresas. Bom seria que o ambiente criado pelo Estado fosse tão favorável como aquele que temos criado. Estaríamos em condições de exportar muito mais.
VE – Como é possível aumentar a produtividade?
RCP – Pode-se aumentar a produtividade com um conjunto de instrumentos. Desde logo, sermos mais organizados nas nossas empresas e os trabalhadores serem mais qualificados. A gestão continuar a investir para ser cada vez melhor. Temos de investir em investigação e desenvolvimento, continuar a investir em tecnologia, perceber quais são os nossos pontos fortes e investir neles. Mas há também outros fatores que não dependem de nós, como a legislação fiscal e laboral, os custos de contexto, entre outros.
Exportar tecnologia
VE – Tendo em conta o atual contexto, o perfil das exportações está a mudar?
RCP – O perfil das exportações está a evoluir. Neste momento, estamos a exportar mais bens de equipamento para mercados como os Estados Unidos. Estamos a exportar cada vez mais tecnologia, porque os nosso produtos e equipamentos têm cada vez mais incorporação tecnológica.
VE – O PRR está a ter um impacto limitado para as PME, em geral?
RCP – O PRR tem sido muito focado em iniciativas públicas. Uma das coisas que nós reclamamos é a reforma da administração pública e seria importante os investimentos serem orientados nesse sentido, mas não é o que está a acontecer. Temos algumas expetativas relativamente às agendas mobilizadoras, em que a AIMMAP está envolvida nalgumas iniciativas, que podem ajudar a alavancar alguns setores da nossa economia.
ESTA ENTREVISTA TEVE A PARTICIPAÇÃO DE FRANCISCO CARVALHO RIBEIRO E JOÃO DE ALMEIDA ARAÚJO, ALUNOS DO 12.º ANO, NO ÂMBITO DO ESTÁGIO SMART CHOICES, ORGANIZADO PELO COLÉGIO CEDROS.
Rafael Campos Pereira – Estamos ainda a sentir as consequências da pandemia e das medidas que foram tomadas, alegadamente para fazer face à mesma, tendo surgido a seguir a guerra na Ucrânia. Estes fatores têm causado muitos constrangimentos, designadamente o aumento dos custos da energia, a diminuição da mão de obra disponível para trabalhar, o aumento dos custos das matérias-primas e dos transportes, os problemas logísticos. Tudo isto teve um impacto muito grande na nossa atividade. Apesar de tudo, o setor teve o melhor primeiro semestre de sempre para a maioria da empresas e julho e agosto ainda foram excelentes meses. Os últimos meses têm sido mais difíceis, com quebras nas encomendas. Com o aumento das taxas de juro, a inflação, entre outros aspetos, as dificuldades têm crescido.
VE – Qual o impacto da feira de Hannover para a imagem do setor metalúrgico nacional?
RCP – Hannover é a feira mais importante do mundo em termos industriais e tecnológicos e tem uma audiência muito profissional e ao nível das economias mais desenvolvidas. Foi muito importante que os alemães percebessem o profissionalismo das empresas portuguesas e a grande qualidade do produto e dos expositores nacionais. Teve um impacto brutal, porque os grandes compradores alemães entenderam a qualidade das nossas empresas, isto é, Portugal tem fornecedores de muita qualidade. Há um maior número de empresas e de segmentos da indústria alemã que entendem que não somos só ovos moles, vinho e queijo da serra. Há outras coisas, como equipamentos, máquinas, peças para a indústria automóvel. A feira ajuda a perceber tudo isto. A indústria portuguesa tem capacidade para fornecer os melhores do mundo.
A importância do diálogo social
VE – Em Portugal, a representação sindical no setor privado é inferior à de outros países?
RCP – Não sei qual tem sido a evolução dos últimos anos. Não quero comparar Portugal com outros países. Sei que a AIMMAP tem conseguido fazer acordos com os sindicatos da UGT e acordos de contratação coletiva. Ou seja, cria normas para regular as relações entre as empresas e os trabalhadores. Achamos que é muito importante os sindicatos terem representatividade para negociar com a associação e para podermos, em conjunto, criar melhores condições para sermos mais competitivos, termos melhor emprego e haver mais produtividade no setor.
VE – O diálogo social é importante em termos de contributo para o crescimento?
RCP – O diálogo social de boa fé de ambas as partes é muito importante. Temos excelentes exemplos de outros países, em que o diálogo social é muito relevante, como é o caso dos países nórdicos. A AIMMAP valoriza muito a concertação social e a contratação coletiva. Quando as nossas contrapartes estão de boa fé, é possível fazer-se acordos que são bons para ambas as partes. Já é mais difícil fazer acordos com sindicatos mais radicais.
Iniciativas para a internacionalização
VE – Quais são as próximas iniciativas da AIMMAP para a internacionalização?
RCP – Vamos continuar a desenvolver iniciativas nos nossos principais mercados. Consideramos muito importante aproveitar o impacto que teve a nossa presença na Hannover Messe de 2022 e ter uma presença significativa no próximo ano. Estamos a trabalhar nisso em conjunto com a Aicep. Seria um desperdício não se aproveitar o que se criou. Vamos também continuar a estar presentes na feira de subcontratação mais importante da Europa, a Midest, ora em Paris ora em Lyon. E vamos marcar presença ainda noutras feiras, como é o caso dos Estados Unidos, mercado para onde as exportações estão a aumentar. Vamos sobretudo apostar na AMTS, em Chicago. Acreditamos que há outros mercados onde podemos estar presentes, como o Norte de África, o Golfo Pérsico ou a Coreia do Sul.
VE – Quais as vantagens das empresas portuguesas, face às concorrentes estrangeiras?
RCP – A indústria metalúrgica e metalomecânica tem grande capacidade para responder a nichos, pequenas séries, que são características diferenciadoras. Conseguimos ter uma relação qualidade-preço que também nos diferencia. Temos recursos humanos qualificados e bastante resiliência. Obviamente, não podemos dominar a vertente da fiscalidade, que não é amiga das empresas. Bom seria que o ambiente criado pelo Estado fosse tão favorável como aquele que temos criado. Estaríamos em condições de exportar muito mais.
VE – Como é possível aumentar a produtividade?
RCP – Pode-se aumentar a produtividade com um conjunto de instrumentos. Desde logo, sermos mais organizados nas nossas empresas e os trabalhadores serem mais qualificados. A gestão continuar a investir para ser cada vez melhor. Temos de investir em investigação e desenvolvimento, continuar a investir em tecnologia, perceber quais são os nossos pontos fortes e investir neles. Mas há também outros fatores que não dependem de nós, como a legislação fiscal e laboral, os custos de contexto, entre outros.
Exportar tecnologia
VE – Tendo em conta o atual contexto, o perfil das exportações está a mudar?
RCP – O perfil das exportações está a evoluir. Neste momento, estamos a exportar mais bens de equipamento para mercados como os Estados Unidos. Estamos a exportar cada vez mais tecnologia, porque os nosso produtos e equipamentos têm cada vez mais incorporação tecnológica.
VE – O PRR está a ter um impacto limitado para as PME, em geral?
RCP – O PRR tem sido muito focado em iniciativas públicas. Uma das coisas que nós reclamamos é a reforma da administração pública e seria importante os investimentos serem orientados nesse sentido, mas não é o que está a acontecer. Temos algumas expetativas relativamente às agendas mobilizadoras, em que a AIMMAP está envolvida nalgumas iniciativas, que podem ajudar a alavancar alguns setores da nossa economia.
ESTA ENTREVISTA TEVE A PARTICIPAÇÃO DE FRANCISCO CARVALHO RIBEIRO E JOÃO DE ALMEIDA ARAÚJO, ALUNOS DO 12.º ANO, NO ÂMBITO DO ESTÁGIO SMART CHOICES, ORGANIZADO PELO COLÉGIO CEDROS.
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