Populistas são todos os que divergem do sistema instituído;

Jaime Nogueira Pinto no lançamento do livro “O efeito Trump e o Brexit”
Populistas são todos os que divergem do sistema instituído
O livro de Jorge Castela surge num momento oportuno, contribuindo para a análise e debate dos factos e tendências que vão marcar a atualidade.
“Os populismos são populares e ganham eleições porque os partidos estabelecidos, ao convergirem numa retórica humanitária e abrangente e ao aparecerem entrosados com interesses alheios ao bem comum, desprezaram grande parte dos seus eleitores, a sua humanidade concreta, os seus valores, credos, convicções, ansiedades e medos” – considera Jaime Nogueira Pinto. O politólogo foi o orador-convidado no lançamento do livro “O efeito Trump e o Brexit”, da autoria de Jorge Castela, editado pela Vida Económica.
A sessão de lançamento do livro decorreu na Sala dos Presidentes, na sede da AIP, na Junqueira, num evento que contou com a presença de José Eduardo Carvalho. Naquela que foi a primeira intervenção pública de Jaime Nogueira Pinto após a suspensão da conferência na Universidade Nova, estiveram em análise o “Brexit”, a nova administração Trump e as eleições francesas que se aproximam.
“Poucos tiveram em conta que o que contava não era só a Economia e o bem-estar económico”— referiu Jaime Nogueira Pinto. Em sua opinião, havia um sentimento de marginalização da parte do povo e dos eleitores. Segundo referiu, foi a City e parte do “establishment” político, os jornais de referência, os dirigentes estrangeiros e o próprio Presidente americano a encorajar os ingleses a votar “remain”, acenando-lhes com a catástrofe, a miséria e o caos que se seguiriam ao “exit”.
“Com a eleição de Donald Trump, volta-se a falar na América das duas nações ou no estado desunido da América” – considera Jaime Nogueira Pintom referindo os “ricos e poderosos” e os “homens comuns”. Em sua opinião, coloca-se  a questão de saber se o sistema vai acomodar a divisão ou se vai ser subvertido por ela e se a divisão – que está também a acontecer na Europa – é um acidente ou um sintoma de uma nova fase da História.

União Europeia menos unida e menos europeia

O autor do livro referiu o risco de colapso da UE, durante a sua intervenção. Para Jorge Castela, a UE eestá cada vez menos unida e cada vez menos “europeia”. Os países já decidiram enterrar o “livro branco” que Juncker anunciou para aprovação a 25 de Março de 2017, sobre o “Futuro da Europa”. Para Jorge Castela, é uma verdadeira ficção em irreversível colapso pós-“Brexit” (o “gatilho” com que, corajosamente, o Povo Britânico “alvejou” Bruxelas no seu “coração”: a “carteira”!).
Em sua opinião, o livro branco já morreu, antes de nascer e sem futuro. O Directório Alemanha/França/Itália/Espanha e os poderes obscuros, sem qualquer legitimidade democrática e em linha com a hipocrisia do “Politburo de Bruxelas”, já sancionaram, de entre os “cinco cenários”, uma escolha, já decidida e anunciada por Merkel e Hollande: “várias velocidades numa geometria variável” desenhada entre “nós e os outros”.

Fim do imperialismo americano

Para o autor do livro, o isolacionismo significa o fim do imperialismo americano. “Já não vamos ter manifestações contra o “imperialismo americano”, o “Grande Satã”… agora, só passa a ser moda se o fizerem “contra o Trump” – referiu.
Para Jorge Castela, há uma nova perspetiva sobre o Keynesianismo e intervencionismo do Estado e o fim do “Ultraneoliberalismo”. Conforme ironizou, com Trump e o seu protecionismo, os Livres Mercados já passam a ser defendidos, quando antes eram ostracizados.
 Na opinião de Jorge Castela, o “Brexit” e as eleições americanas ditaram o princípio do colapso de paradigmas até então dominantes, mas já em profunda crise.
“Dogmas e mitos impostos por um ‘pensamento único’ que se estendeu do plano político e económico aos meios universitários, para uma cada vez maior influência dos ‘media’ por si controlados e para um cada vez maior poder censório sobre os que se atrevem a ‘sair da caixa’, exprimindo o seu livre pensamento, face aos condicionamentos a que a opinião pública continua a ser sujeita” - explicou.

Populismos fazem vacilar o mundo

“O tema não podia ser mais apelativo e atual: a turbulência política internacional causada por dois grandes acontecimentos que irão, certamente, marcar a primeira parte do século XXI. Falamos, claro, do ‘Brexit’ e da vitória do magnata Donald Trump nas eleições presidenciais americanas de 8 de Novembro de 2016” – refere André Ventura.
Para o autor do prefácio desta obra, o mais apelativo neste livro que Jorge Castela nos apresenta não é, no entanto, o enquadramento ou a ligação óbvia entre estes dois tópicos fundamentais da nova ordem mundial. “É a extraordinária criatividade e espírito crítico que imprime a cada passo do caminho que vai percorrendo, sem se vergar ao politicamente correto ou ao academicamente aconselhável. Uma pedrada no charco do pensamento dominante, numa altura em que os diversos populismos emergentes fazem verdadeiramente vacilar o mundo que habitamos” - afirmou.
“Não tenho a certeza – nem me cabe formular esse juízo – se o autor está ou não certo quanto às respostas que nos apresenta, muitas delas numa linha livre de pensamento não isenta de crítica ou controvérsia. Mas tenho a certeza absoluta que, com este livro, Jorge Castela consegue um feito notável: vai ao âmago de assuntos extraordinariamente complexos de forma límpida e assertiva”,  acrescentou.
Na opinião de André Ventura, o livro que acaba de ser publicado é um verdadeiro tratado sobre o mundo em que vivemos e que será recordado, analisado, assimilado e discutido por muitos e muitos anos.
Susana Almeida, 17/03/2017
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