Previsões para 2020 no renting dependentes da duração da interrupção económica;

António Oliveira Martins, vice-presidente da ALF, indica
Previsões para 2020 no renting dependentes da duração da interrupção económica
O renting automóvel teve um 2019 de crescimento moderado e os operadores do setor apontavam para um 2020 com um desempenho na mesma linha até a economia sofrer o impacto da pandemia do novo coronavírus. A Associação Portuguesa de Leasing, Factoring e Renting (ALF) não arrisca fazer previsões concretas sem um regresso da atividade económica ao país. Uma coisa é, porém, certa. O desempenho será diferente.
“Face ao surto epidémico da Covid-19, as projeções são agora diferentes, sendo que, nas últimas semanas, vivemos uma situação de elevada quebra. Sendo ainda cedo para fazer previsões numéricas, tudo irá depender da duração que esta interrupção extraordinária da atividade económica irá durar”, indica, em entrevista à “Vida Económica”, António Oliveira Martins, vice-presidente para o renting da ALF.
 
Vida Económica – Como estão as associadas da ALF a reagir ao fortíssimo impacto da pandemia de Covid-19 na economia?
António Oliveira Martins – Conscientes da importância que as frotas automóveis têm na atividade económica nacional, as nossas associadas de renting têm estado particularmente ativas a trabalhar na perspetiva de mitigar os impactos negativos da pandemia nas empresas e apoiá-las no que for necessário. Apesar de algumas das empresas nacionais estarem atualmente com a laboração temporariamente encerrada, existem muitas outras que continuam a trabalhar e que continuam a necessitar de frotas automóveis modernas, eficientes e operacionais. Neste sentido, as associadas da ALF têm procurado incrementar métodos alternativos de contacto com os clientes; delinear novas formas de poder ajudar as empresas nacionais, nomeadamente através da flexibilidade e alargamento de prazos de contratos, baseados no diálogo com cada um.
Tem também existido um diálogo entre a ALF e o Governo e organismos públicos, pois existem vários aspetos relacionados com a mobilidade automóvel que necessitaram de ser acautelados, nomeadamente junto do IRN (ao nível dos registos automóveis), da ANSR (devido à suspensão das coimas rodoviárias) e do IMT (atendimento aos balcões); bem como de um diálogo com os parceiros do setor, de forma a garantir que o negócio continua a desenrolar-se dentro dos condicionalismos existentes. Existe um despacho recente da Secretaria de Estado do Comércio, Serviços e Defesa do Consumidor que estamos a tentar clarificar relativamente à suspensão do comércio de veículos.
 
VE – Do ponto de vista operacional, continuam a dar resposta aos clientes que continuam em operação?
AOM – Do ponto de vista operacional, as associadas da ALF têm reforçado a sua capacidade de atendimento à distância para responder da melhor forma às solicitações dos seus clientes, assegurando a manutenção da atividade. O foco está na continuidade das operações e na adaptação. O setor é resiliente e vai manter-se ao lado seus clientes a apoiá-los, sendo de destacar que, apesar da situação atual, não existiu disrupção na atividade de renting.
 
VE – Já conseguem fazer uma previsão do ano do renting automóvel em termos de faturação e frota?
AOM – Os resultados do setor do renting em 2019, divulgados recentemente pela ALF, foram positivos, quer em valor, quer em número de viaturas, com crescimentos de 4% e 0,7%, respetivamente. Neste sentido, o ano 2020 antevia-se como mais um ano crescente, com toda a conjuntura económica, tanto a nível nacional como europeu, a proporcionar às empresas evolução e investimento. Porém, face ao surto epidémico da Covid-19, as projeções são agora diferentes, sendo que nas últimas semanas vivemos uma situação de elevada quebra. Sendo ainda cedo para fazer previsões numéricas, tudo irá depender da duração que esta interrupção extraordinária da atividade económica irá durar.
 
VE – Como é que esse número comparará com 2019 e com as anteriores previsões para 2020?
AOM – Ainda é demasiado cedo para fazer comparações e tudo dependerá da duração do estado de emergência, porém será certamente de diminuição.
 
VE – Esperam mais dificuldades de cobrança devido ao impacto da pandemia nas empresas e famílias clientes?
AOM – É certamente uma possibilidade, mas que no curto prazo não é o enfoque específico. Perante o surto epidémico da Covid-19, as renting estão centradas, enquanto parceiras estratégicas, em identificar oportunidades de redução de custos e na flexibilidade no ajustamento de contratos de aluguer operacional às necessidades dos clientes antes e durante a vigência do contrato, contribuindo para evitar tais cenários.
 
VE – Que medidas está o setor a tomar para auxiliar os clientes que passem por dificuldades nos compromissos com as empresas?
AOM – As medidas que têm sido tomadas de forma geral são as já referidas de análise de custos que possam ser reduzidos, prolongamento de durações de contrato e flexibilidade ao nível dos contratos existentes, com enfoque na continuação das operações.
 
VE – A flexibilização da oferta de renting – com oferta de renting de usados, prolongamentos de contratos e até complementaridade de oferta com partilhas de veículos na empresa cliente – pode ser uma dessas ferramentas de auxílio aos clientes?
AOM – Sem dúvida que a flexibilidade e adaptabilidade do renting trazem claras vantagens competitivas às empresas, nomeadamente para as PME, que podem focar-se nas suas atividades principais, sabendo que têm um parceiro na mobilidade automóvel que é especializado em otimizar a frota e reduzir custos. Cada cliente é analisado de forma individual, de forma a poder tentar ajustar o que for mais indicado.
 
VE – A previsibilidade dos valores residuais torna-se mais desafiante?
AOM – Prever o risco e adequar soluções, otimizando a rentabilidade é a premissa subjacente à atividade do renting. Num contexto economicamente desafiante, a postura é ainda de expetativa, pois tudo irá depender da duração do atual estado de situação. Para os clientes, é benéfico não terem que ter esta preocupação que delegam nas rentings.
 
VE – No caso dos automóveis em contrato, esse valor residual também é um problema para as associadas da ALF?
AOM – É um risco inerente ao negócio que as rentings assumem em benefício dos seus clientes que não têm assim que se preocupar com eventuais desvalorizações automóveis. É uma estabilidade que o renting permite, muito importante para as empresas em tempos de grandes incertezas.
 
VE – Depois do pico da crise, o renting automóvel poderá ser um aliado das empresas enquanto melhor opção para contratação de frotas automóveis?
AOM – O renting tem atraído não só cada vez mais pequenas e médias empresas, mas também particulares, captando um universo de clientes que reconhece já as vantagens deste modelo de mobilidade automóvel em termos de eficiência, flexibilidade e competitividade. Estamos certos de que, perante uma situação de crise, as empresas reconhecem ainda mais as vantagens inerentes ao renting, que lhes permite terem uma frota sempre moderna e atualizada, com um conjunto vasto de serviços associados, que inclui a manutenção preventiva e corretiva, gestão de pneus, gestão de portagens, de combustíveis, impostos, multas, sinistros, viaturas de substituição, seguros, etc., e um controlo apertados de todos os custos inerentes, o que dificilmente as empresas conseguiriam por si sós. As rentings gerem uma frota ativa de mais de 122 mil viaturas, pelo que através de economias de escala conseguem obter vantagens que são repassadas para os clientes, para além de toda uma especialização no setor automóvel que é muito útil a todos os níveis, incluindo operacionais e fiscais, constituindo-se assim como importantes parceiros para gerir a frota de forma profissional.
 
Aquiles Pinto aquilespinto@vidaeconomica.pt, 25/04/2020
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