Gestão de uma Carteira de Investimentos – a execução e a monitorização;

Gestão de uma Carteira de Investimentos – a execução e a monitorização
Conforme explicado no artigo anterior, “Gestão de uma Carteira de Investimentos – o primeiro passo”, uma boa preparação permite enquadrar “a priori” um conjunto de problemas que inevitavelmente surgirão ao longo da vida de uma carteira de investimentos. Faz parte de um boa preparação uma política de investimentos personalizada e adequada, pois representa um  alicerce fundamental para os passos que se seguem: a execução e a monitorização.
 
Segundo passo – execução
 
Este passo é dominado pelo processo de investimento. O processo de investimento decorre daquilo que é a filosofia de investimento do investidor ou do seu consultor. Por exemplo, com uma filosofia de investimento em que há uma ideia central de que são as grandes tendências económicas, políticas, demográficas e comportamentais, entre outras, que impactam mais significativamente os retornos, é natural que o processo de investimento procure primeiro identificar essas tendências atuais e previsíveis e que invista uma quantidade significativa de tempo nesta busca de tendências macro. Por outro lado, se a filosofia de investimento do investidor ou do seu consultor for encontrar ativos subavaliados, é normal que o processo resulte sobretudo na análise de investimentos específicos em empresas e modelos de negócio. A primeira abordagem é geralmente designada de “top-down” e a segunda de “bottom-up”.  Na prática, as metodologias podem ser complementares. Por exemplo, é possível termos um processo de investimento “top-down” – que incorpore considerações sobre variáveis macro como a inflação, crescimento económico, crescimento agregado dos resultados das empresas e evolução das taxas de juro – e, em complemento, uma escolha de ativos que tem em consideração critérios de qualidade, de valor, de crescimento ou mesmo de “momentum”. De todo o modo, um processo de investimento robusto deverá incorporar diferentes classes de ativos – por exemplo: ações, obrigações, alternativos e cash – e subclasses dentro destas – por exemplo, no caso das obrigações, investment grade e high yield. A alocação estratégica a cada classe ou subclasse deverá ter em consideração o que se espera em termos de retorno, risco e correlação com as outras linhas de investimento, o que também resulta fundamental na definição do benchmark específico do cliente. Os desvios à alocação estratégica comportam aquilo que se designa de alocação tática, a qual pode incluir desvios quantitativos e qualitativos face à alocação estratégica. Por exemplo, a alocação táctica pode incluir uma sub ou sobre alocação a ações americanas e ao mesmo tempo uma escolha de ativos que se desvia qualitativamente do benchmark escolhido para as ações americanas.
 
Terceiro passo – monitorização
 
Este passo inclui o rebalanceamento e a avaliação da execução. No rebalanceamento, a carteira de investimentos é ajustada por forma a corrigir os desvios à alocação estratégica ou tática que decorreram das variações das suas componentes. Por exemplo, no início do ano, a alocação estratégica de uma carteira poderia ser 50% ações e 50% obrigações. No final do ano, se as ações subissem 20% e as obrigações subissem 1%, a alocação estratégica passaria a ser de 54,3% em ações e 45,7% em obrigações. O rebalanceamento é o procedimento periódico que ajusta os pesos às alocações alvo, sendo necessário predefinir a sua periodicidade e os intervalos sujeitos a balanceamento. No exemplo em concreto, poderia definir-se previamente que haveria um rebalanceamento sempre que as classes de ativos em causa saíssem do intervalo 45% a 55% em observações mensais e que, em todo o caso, haveria um rebalanceamento anual, mesmo que as classes estivessem dentro dos intervalos referidos. A avaliação da execução é o processo mediante o qual se verifica se a carteira cumpre ou não os objetivos de rentabilidade e risco e como se comporta face ao “benchmark” específico. O processo de monitorização interage naturalmente com o passo de execução, quer porque pode resultar em ações concretas, no caso do rebalanceamento, quer porque questiona determinadas decisões tomadas no passo anterior.    
 
Notas finais
 
Não é objetivo deste artigo escalpelizar situações concretas, mais ou menos complexas, mas sim explicar uma metodologia que aproxima investidores reais ou potenciais da lógica dos seus investimentos e de quem os gere ou presta consultoria. É possível ter sucesso de várias formas. Contudo, dificilmente haverá sucesso sem preparação, sem um processo sólido e sem um escrutínio racional.
 
Alexandre Mota CFA CEO da Partners2U www.partners2u.pt, 30/07/2020
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