Setor da segurança tem escassez de meios humanos;

Gonçalo Morgado, diretor-geral da Prosegur Security, alerta
Setor da segurança tem escassez de meios humanos
O setor da segurança atravessa um momento de escassez de meios humanos em Portugal. Por outro lado, a transformação digital obriga a uma cada vez maior capacitação por parte dos profissionais. Gonçalo Morgado, diretor-geral da Prosegur Security, alerta ainda que há falta de regulamentação de pontos essenciais da Lei para o saneamento do setor. Face aos novos desafios, a Prosegur está a apostar na segurança híbrida.
Vida Económica – Como caracteriza a atual situação da segurança nas suas várias vertentes?
Gonçalo Morgado -
Nos últimos anos, o mundo tem experienciado um crescimento da sensação global de insegurança e instabilidade, segundo a evolução do Índice de Incerteza Mundial publicado pelo FMI, fruto dos diversos cenários que afetam as economias, empresas e instituições, bem como os indivíduos e a sociedade. Os riscos atuais apresentam um carácter híbrido, expondo uma convergência extrema entre o mundo físico e o digital. A polarização política, a pandemia de Covid-19, as disrupções nas cadeias de abastecimento ou recentemente a guerra na Ucrânia apresentam um carácter sistémico e afetam o desenvolvimento da atividade económica dos nossos clientes. Portanto, esta complexidade do mundo atual exige que estejamos informados e tenhamos uma visão holística da segurança, a fim de antecipar riscos atuais ou ameaças que possam surgir a curto, médio e longo prazo. Em consequência, o conceito de segurança está a evoluir, já não se concentrando apenas na proteção de pessoas ou bens, ao invés, passou a incluir outras áreas como a segurança económica, de dados, de informação ou tecnológica.

VE – Quais os principais problemas que se colocam à vossa atividade?
GM -
Nos últimos anos, o setor tem lutado com uma especial escassez de meios humanos, fruto da concorrência com outros setores também em crescimento, o que tem levado as associações do setor a desenvolver ações para promover a atratividade do mesmo, nomeadamente ao nível da contratação coletiva, em conjunto com os sindicatos. Do nosso lado, acreditamos ainda que é fundamental promover a capacitação contínua das nossas pessoas para poderem, com sucesso, suplantar os desafios da transformação digital que temos vindo a promover. Por essa razão, investimos ao longo dos últimos anos na sua formação através de ações contínuas concentradas na Universidade Prosegur.

VE – O setor tem uma legislação adequada?
GM -
A segurança privada é um setor bastante regulado em Portugal por via da Lei da Segurança Privada atualmente em vigor (Lei 46/2019) e respetivas portarias complementares. Contudo, tal como tem sido explicado pela AES (Associação de Empresas de Segurança) em diversas intervenções públicas, a falta de regulamentação de pontos essenciais da Lei para o saneamento do setor, tais como o combate à contratação com prejuízo e a realização de inspeções multidisciplinares (ACT, AT e PSP) aos operadores do setor, pode pôr em perigo a sustentabilidade a longo prazo do setor da segurança privada em Portugal. Neste sentido, resulta necessário continuar a pugnar pelo seu cumprimento, com vista ao continuado desenvolvimento de um sector crítico para a sociedade e complementar da atividade das forças e serviços de segurança do Estado.

Movimento de concentração
VE – Existe uma concorrência excessiva?
GM -
De acordo com os dados recentemente publicados por uma conceituada empresa de research, existem cerca de 75 empresas ativas a prestar serviços de segurança privada em Portugal, que se dividem em empresas de âmbito mais nacional – de maior dimensão - e outras de âmbito mais local. Na nossa opinião, nunca se pode falar de concorrência excessiva, uma vez que são as condições de mercado e o respetivo mercado que determina quantos operadores têm viabilidade para operar no mesmo. Numa análise histórica, é possível constatar dois fenómenos: por um lado, assistiu-se, num passado recente, a alguns fenómenos de concentração e, por outro, a um pequeno decréscimo no número de operadores ativos. Numa visão prospetiva e face à evolução prevista do mercado, não é de estranhar que se venham a verificar novos movimentos de concentração.

VE – Qual a estratégia da Prosegur para se afirmar no mercado?
GM -
Os riscos tradicionais estão a tornar-se cada vez mais difusos, inesperados e disruptivos. Este contexto está a dar lugar a uma inevitável evolução da segurança, pelo que na Prosegur definimos um modelo que procura dar resposta a esta nova realidade, a segurança híbrida. A nossa proposta baseia-se no empoderamento dos nossos especialistas de segurança através de tecnologias inteligentes e gestão de dados em tempo real. Desta forma, conseguimos a combinação perfeita entre recursos humanos com experiência e conhecimento, meios tecnológicos operados e dados recolhidos e transformados em insights para uma melhor e proativa gestão operacional. Com tudo isto, procuramos impulsionar uma verdadeira transformação dos modelos de segurança tradicionais e mitigar os riscos, com o objetivo de responder aos problemas de cada empresa, através de soluções integrais, inteligentes e adaptadas a cada cliente.

VE – Quais os investimentos e os projetos previstos?
GM -
Este ano centrámo-nos na abertura do nosso novo iSOC – Intelligent Security Operations Center  – em Lisboa, onde investimos mais de um milhão de euros e que permitirá a criação de mais de 100 novos postos de trabalho. Este novo investimento reafirma o nosso compromisso com o mercado português, onde operamos há mais de 40 anos, assim como com o iSOC é o primeiro centro de operações de segurança inteligente da Prosegur na Europa. É o elemento central dos nossos serviços de segurança híbrida e o nosso valor diferencial face à concorrência. Este centro integra tecnologia de ponta (Inteligência Artificial, IoT, Big Data, etc), processamento inteligente de dados, serviços avançados de segurança e permitirá abordar as operações de segurança de uma forma mais inteligente e ágil, antecipando os riscos e ameaças que as empresas enfrentam atualmente.
Neste sentido, o novo iSOC da Prosegur apoia e melhora as funções e serviços que prestamos aos nossos clientes. Entre estes, destacam-se a gestão integrada de sinais de alerta na ativação de protocolos de segurança, a monitorização ativa de imagens – incluindo maiores capacidades através da incorporação de Inteligência Artificial –, a recolha de dados contextualizados, a gestão remota de entradas e saídas de veículos e pessoas e a revisão do cumprimento dos regulamentos e parâmetros operacionais do cliente.
Além disso, o iSOC amplia as capacidades remotas para lidar com incidentes técnicos e está configurado como o centro de recolha de dados e respetiva análise, para reforço das capacidades operacionais no terreno, 365 dias por ano, 24h por dia.
Susana Almeida, 25/11/2022
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