Ceder o controlo da empresa familiar em detrimento de maior sucesso financeiro;

REFLEXÕES SOBRE EMPRESAS FAMILIARES
Ceder o controlo da empresa familiar em detrimento de maior sucesso financeiro
Uma empresa familiar pode ser detida a 100% pela respetiva família empresária ou, em alternativa, esta pode manter uma posição significativa de controlo do capital (normalmente superior a 50%, como é o caso da família Soares dos Santos na Jerónimo Martins ou da família Ortega na Inditex) ou minoritária, mas de referência e, no limite, com direitos de controlo sobre determinados aspetos da sociedade (família Botín no banco Santander).
 
À medida que uma família cresce, a posse do capital dilui-se ao longo das sucessivas gerações, o que dificulta os consensos sobre os objetivos estratégicos e de liderança da empresa. 
O estudo “Global family business survey 2019” desenvolvido pela Deloitte, em 2019, questionou os participantes quanto à continuidade futura das empresas no seio da família, tendo-se obtido um certo equilíbrio quantos às três possíveis hipóteses:
  • 30% não sabem o que acontecerá;
  • 34% acreditam na continuidade do controlo;
  • 36% consideram a hipótese de abertura do capital a externos à família.
A intenção dos atuais acionistas é essencial para se definir uma orientação de longo prazo que, para além de metas não económicas (orgulho de pertença, desejo de influência, meio de união etc.), também deve considerar objetivos económicos e financeiros (volume de vendas, rentabilidade do capital, etc.). 
O importante é que os atuais e futuros proprietários alinhem os seus interesses e cheguem a um consenso sobre o que será melhor para a empresa e, obviamente, para a própria família.

 

O ano de 1551 data o primeiro documento que atesta a atividade vitivinícola de Jaume Codorníu. Em 1659, Anna Codorníu, uma das suas descendentes, casou com Miquel Raventós, unindo duas grandes famílias de Penedés. Em 2018, com a 18ª geração, a família era composta por 618 descendentes, repartidos por 5 ramos familiares, sendo que 216 eram acionistas.
Em 1999, desenvolveram um código de conduta para os membros da família, onde se definiu que a empresa nunca poderia ter mais de 4 familiares a trabalhar na mesma; quando se candidatam a uma função são submetidos a uma seleção efetuada por um headhunter externo; estes membros são avaliados a cada 2 anos; etc.
Em junho de 2018, foi assinado um contrato de exclusividade para a venda de uma participação maioritária (68%) da Unidesco, SA, empresa que controla o grupo familiar, a fundos geridos pelo Carlyle Group. A transação avaliou a empresa em 390 milhões de euros e foi concretizada em finais de outubro do mesmo ano.
Mar Raventós, a presidente da Codorníu à data, salientou que, “depois de analisarmos várias opções, chegámos a um consenso, concordando com uma solução com muito potencial e com uma visão de longo prazo sobre a liderança da empresa. O contrato ajudará a impulsionar a empresa no exterior e a consolidar e dar continuidade à nossa estratégia centrada na construção, marcas valiosas e prestigiadas”.
Este processo resultou numa cisão de posições da família empresária. Uma grande parte considerou que o valor de avaliação era adequado aos seus objetivos e que o ideal seria entregar a empresa a outra entidade, enquanto um grupo minoritário preferiu não alienar e manter-se como sócio minoritário na sociedade.


Temas para reflexão:
  • O que é que os atuais sócios desejam relativamente ao futuro do capital da empresa que possuem?
  • Os seus potenciais herdeiros possuem vontades condizentes com esse desejo?
  • A família está habilitada e poderia beneficiar com a partilha do capital com um sócio externo?


António Nogueira da Costa
Especialista em Empresas Familiares
antonio.costa@efconsulting.pt
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Especialistas na consultoria a Empresas Familiares
e elaboração de Protocolos Familiares
http://www.efconsulting.pt
 
 


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