Microempresas contrariam quebra do crédito bancário
O crédito às empresas continua a contrair, mas o segmento das microempresas tem a evolução mais positiva - revelam os últimos dados do Banco de Portugal.
Pelo contrário, a evolução mais negativa está no crédito às grandes empresas e traduz-se na quebra do crédito e no aumento dos incumprimentos.
Pelo contrário, a evolução mais negativa está no crédito às grandes empresas e traduz-se na quebra do crédito e no aumento dos incumprimentos.
As microempresas são o segmento onde os bancos têm mais crédito aplicado e onde estão a fazer mais novos financiamentos. A conclusão extrai-se dos últimos dados do Banco de Portugal, revelados esta semana, que incluem os números de maio de 2017.
Desde dezembro de 2015 o crédito bancário às empresas diminui 6610 milhões de euros. Mas o segmento das microempresas apresenta a evolução mais favorável, estando quase a estabilizar próximo dos 24,5 mil milhões de crédito concedido e cresceu mesmo um milhão de euros entre abril e maio de 2017, o que já não acontecia desde 2012.
As microempresas apresentam também uma evolução favorável na sinistralidade. O rácio de crédito vencido desceu, em 14 meses, de 26,6% para 25,2%.
Apesar do nível elevado, a tendência do incumprimento é de descida, ao contrário do que acontece nas grandes empresas.
Neste momento o crédito concedido às microempresas (com um volume de emprego até nove pessoas) já representa cerca de 34% do crédito concedido pelos bancos às empresas e está a aumentar.
Pequenas empresas reduzem incumprimento
Depois das microempresas, são as pequenas empresas o segmento com maior peso no financiamento bancário, com um total 18 889 milhões de euros em crédito. Apesar de contrair 1584 milhões de euros, a tendência é mais positiva do que nas médias e grandes empresas. O incumprimento das pequenas empresas reduziu de 14,6% para 13,8%.
As médias empresas surgem em terceiro lugar em termos do crédito bancário concedido.
A contração do crédito é superior ao das micro e pequenas empresas, mas a tendência no incumprimento está a ser favorável, com uma redução contínua desde maio de 2016 (10,5%) até abril de 2017 (10,1%), para um total de crédito concedido a rondar os 18,5 mil milhões de euros.
Grandes empresas têm maior contração do crédito
É nas grandes empresas que os números do crédito bancário apresentam os valores mais desfavoráveis. Com um total de 10 133 milhões em crédito concedido, as grandes empresas têm a quota mais reduzida no crédito bancário, e apresentam uma maior contração, com uma evolução negativa de 580 milhões de euros. A queda é de 4,6%.
Ao contrário do que acontece com as microempresas, o incumprimento continua a subir nas grandes empresas, atingindo, em maio passado, um rácio de crédito vencido de 4,8% (3,5% em dezembro de 2015), o valor mais alto de sempre.
Os dados do Banco de Portugal revelam também uma quebra significativa no crédito às empresas públicas, ao contrair quase 500 milhões de euros, ou seja, uma queda de 17%.
Instituições sem fins lucrativos batem recorde de incumprimento
Nos últimos dados do Banco de Portugal destaca-se como facto insólito um aumento brusco e sem precedentes do incumprimento no crédito às instituições sem fins lucrativos ao serviço das famílias. Até dezembro estas instituições tinham um rácio de incumprimento de apenas 2%, muito inferior ao das empresas. Entre janeiro e maio de 2017, a taxa de incumprimento subiu para 30,5%, ou seja, 15 vezes mais. Neste segmento os bancos têm uma carteira de crédito de 2060 milhões de euros. Até dezembro o incumprimento rondava 40 milhões de euros, mas agora está próximo dos 650 milhões de euros. No entanto, o aumento brusco do incumprimento pode dever-se apenas à Fundação Berardo. Este segmento inclui, para além das IPSS, a generalidade das fundações, estejam ou não “ao serviço das famílias”. Uma fonte da CNIS – Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade disse à “Vida Económica” que não está a haver um aumento do incumprimento das IPSS face aos bancos. Estas instituições foram muito afetadas pelas subidas do salário mínimo, tendo em conta o peso dos salários na estrutura de custos, mas têm vindo a ser compensadas pelos ajustamentos dos valores dos acordos de cooperação com o Estado. Por outro lado, é conhecida a dívida bancária elevada da Fundação Berardo à banca, com valores próximos dos 1000 milhões de euros, que não vai ser paga. Os três principais bancos credores – BCP, Novo Banco e CGD – terão agora admitido o incumprimento, deixando de renovar sistematicamente os prazos, o que terá provocado a enorme subida do rácio neste segmento. Apesar da subida do valor do crédito em incumprimento, não está a aumentar o número de instituições sem fins lucrativos com pagamentos em atraso à banca, o que confirma a ideia segundo a qual o agravamento súbito da sinistralidade se deverá essencialmente á Fundação Berardo. A “Vida Económica” pediu ao Banco de Portugal um esclarecimento sobre o aumento de 2% para 30,5% do rácio de incumprimento, mas não obteve qualquer resposta até à hora de fecho da edição. |