Diálogo entre empresas e sindicatos é mais fácil em Espanha do que em Portugal
“Em Espanha há mais interação entre sindicatos e empresas” – afirma Javier Urbiola Pérez. Em entrevista à “Vida Económica”, o CEO da ISS Iberia lamenta que em Portugal o diálogo social seja mais difícil. O gestor espanhol dirige uma equipa de 34 mil pessoas e defende uma maior cooperação entre empresas e sindicatos. Como exemplo aponta o facto de a Fundação ISS ser gerida com representantes dos sindicatos.
A ISS aposta na integração crescente de serviços na manutenção de edifícios e locais de trabalho. E admite crescer no mercado português de forma orgânica ou pela compra de empresas.
A ISS aposta na integração crescente de serviços na manutenção de edifícios e locais de trabalho. E admite crescer no mercado português de forma orgânica ou pela compra de empresas.
Vida Económica - As perspetivas são favoráveis no mercado da manutenção de edifícios?
Javier Urbiola Pérez - Este mercado está – depois de muito tempo em crise tanto em Portugal como em Espanha – a desenvolver-se muito bem, com crescimentos acima dos 2%. No nosso caso, estamos a desenvolver um novo produto, uma integração de serviços, apresentando um produto que integra um conjunto de serviços que comportam elementos diferenciadores. Este mercado está a crescer, com valores muito maiores, acima dos 5%. É uma perspetiva muito positiva não só para a ISS mas para o setor.
VE - A nova tendência é a integração dos serviços e não cada serviço de forma isolada?
JUP - Nós adaptamo-nos ao cliente. Damos diferentes soluções para diferentes necessidades. O importante é entender o cliente, falar com ele. Este produto adapta-se ao cliente por razões básicas: um só fornecedor, uma só fatura, tira muita complexidade e temos os serviços todos só com uma equipa, podemdo criar sinergias com os diferentes serviços. É um produto muito interessante que se está a vender muito.
VE – Nesta área o serviço está a tornar-se cada mais especializado?
JUP - Sim, hoje a ISS é uma multinacional que está em mais de 50 países e tem vindo a desenvolver muito a tecnologia.
No serviço mais simples que temos, que é a limpeza, estamos a colocar muita tecnologia de sensores. Antes trabalhava-se com um modelo input base e agora é output base. O output base é que, se não se usa a casa de banho logo está limpa. Como asseguramos que a casa de banho está limpa? Com sensores nas portas, podendo acordar com o cliente que após 17 movimentos da porta chamamos a empregada para limpar. É um modelo muito mais inteligente, usar a tecnologia não só na limpeza mas em todos os serviços.
Estamos focados no cliente. Há sensores nos locais de trabalho por exemplo, para saber se uma pessoa está de viagem, sendo que, nesse caso não limpamos. Usamos a tecnologia para diminuir custos ao cliente e fazer uma limpeza mais inteligente. Mas acontece o mesmo com o catering, manutenção e nos restantes serviços. Passamos de um modelo em que o cliente está satisfeito porque cumprimos frequências a outro modelo em que o cliente está contente porque está limpo.
O mais importante não é a opinião do diretor-geral ou de compras, o que importa é a opinião das pessoas que usam. São três fases e julgo que a ISS é pioneira nesta última. Teremos uma visão do workplace no seu conjunto.
Em 15 anos fomos desenvolvendo muitos tipos de serviços.
VE - Os clientes são médias e grandes empresas?
JUP - Estamos focados em grandes empresas porque são as que mais nos procuram. Faz sentido uma grande empresa num grande edifício, fazer isto. As empresas grandes normalmente, são multinacionais. A ISS pode promover serviços em todos os países com um “single point of contact” e isso é diferenciador para clientes grandes.
VE - Dos vários serviços que prestam, qual é o que tem mais potencial para crescer?
JUP - O que tem mais potencial agora é a manutenção e o catering. Não fazemos catering agora em Portugal mas queremos crescer orgânica ou inorganicamente. O setor mais maduro é o da limpeza. Mas devemos incrementar a nossa posição e vamos crescer. Necessitamos que estas áreas se desenvolvam. Só prestamos serviços aos prédios.
VE - Quanto pode representar estes serviços de limpeza e manutenção nos custos operacionais do espaço?
JUP - Depende do cliente. Pode representar entre 10 e 15% dos seus custos, dependendo do cliente. É uma fatia de custo importante onde têm de economizar.
VE - Numa empresa como a ISS, quanto podem representar os salários nos custos totais?
JUP - Cerca de 80% na limpeza e cerca de 55% na atividade de catering.
VE - Quais as maiores diferenças entre o mercado português e espanhol?
JUP - A única diferença são os salários, que são mais baixos em Portugal, sendo que com a última lei sobem 5% em cada ano. Creio que dentro de dois anos estarão a um nível muito interessante. Nesse sentido não vejo grandes diferenças entre Espanha e Portugal.
Talvez trabalhemos mais os grandes clientes em Espanha. O mercado português necessita de uma concentração maior de empresas porque há mais PME. Penso que devem surgir mais multinacionais portuguesas.
Do ponto de vista da eficiência, é bom quando as multinacionais têm consciência social. Uma maneira de ser sustentável é ter consciência social.
Por exemplo, na Ibéria, 25% da equipa directiva são mulheres. Não estamos contentes mas dentro do setor 25% é importante. O nosso conselho de administração na Dinamarca tem mulheres. A diversidade é positiva por si mesma e é rentável.
VE - Houve reformas laborais recentes em Espanha. Considera que foram positivas para as empresas e para as pessoas?
JUP - A reforma em Espanha foi muito complicada. O desemprego baixou muito e os salários começaram a subir.
Em Espanha há mais interação entre sindicatos e empresas. Aqui há mais guerra entre sindicatos e empresas. Creio que podemos ajudar a mudar isto. Creio que é muito bom que acha associação de empresas e sindicatos. Como sempre, o equilíbrio é bom. O nosso interesse são as pessoas que trabalham na empresa. Em Espanha, o diálogo social é mais fácil.
VE - É mais fácil recrutar em Espanha ou em Portugal?
JUP - Em Espanha é muito mais fácil. Nesse sentido, Portugal está muito melhor. Não tem tanto desemprego, é uma economia nesse sentido mais estável. Em Espanha ainda há muito para fazer e é muito mais fácil conseguir pessoas.
VE - Que surpresas tem encontrado em Portugal?
JUP - Não muitas, porque eu conhecia o país. Somos muitos parecidos ao nível da cultura. Sinto-me muito bem tratado quando venho a Lisboa, ao Porto ou a Faro. Portugal, Catalunha, Andaluzia, Navarra, são culturas diferentes mas irmãs dentro da Península. A maneira de fazer negócios não é muito diferente.
ISS emprega 6500 pessoas em Portugal
No mundo Presente em 74 países: Europa, Ásia, América (Norte e Su) e Austrália. Um dos maiores empregadores mundiais do setor privado, com mais de 490.000 trabalhadores. Facturação em 2016: 10.644 Milhões € Mais de 100 anos de experiência, fundada em 1901, na Dinamarca. Mais de 600 empresas adquiridas. Empresa cotada em bolsa na Dinamarca desde março de 2014 Empresa número um no ranking mundial de empresas de outsourcing de serviços: ‘The Global Outsourcing 100 list’- pela revista Fortune. Membro do ranking mundial ‘Decent Work Companies List’ do Sindicato UNI Global Unions. Na Penísnula Ibérica Presença em todo o território, com 31 delegações. Mais de 34.000 colaboradores. Mais de 1500 pessoas com deficiência bem como colaboradores em risco de exclusão. 61 empresas adquiridas. Facturação 2016: 623 Milhões € Em Portugal Presença em todo o território nacional. Mais de 6500 colaboradores. Mais de 1000 clientes a nível nacional. |