Eleições podem acelerar ritmo de reformas em Angola;

Jantar-debate da ACNAE em Lisboa
Eleições podem acelerar ritmo de reformas em Angola
As perspectivas sobre a as futuras eleições em Angola estiveram em análise no jantar-debate da ACNAE-Conselho de Negócios Afro-Europeu que decorreu em Lisboa.
O evento reuniu jornalistas, gestores, empresários, docentes universitários, juristas e um politólogo. Do leque dos convidados fazia ainda parte um ex-deputado socialista e um parlamentar social-democrata, ambos com ligação profissional a Angola.


O jantar foi moderado pelo vice-presidente coordenador da ACNAE, Manuel Gil Antunes, Administrador-Delegado da Algora, Sustainable Investments, SGPS.
Entre os presentes destacaram-se, o deputado luso-angolano à Assembleia da República, Nuno Carvalho, o antigo deputado à Assembleia da República, Sérgio Vieira, o director-adjunto do Jornal de Negócios, Celso Filipe, o antigo membro da Casa Civil da Presidência da República de Angola, Eliseu Gonçalves, António Manuel Silva Santos, jornalista da RDP África, José Mendes Ribeiro, antigo quadro da Accenture, Rui Verde, na Universidade de Oxford, Filipe Delfim Santos, do Cedesa, Eunice Carvalho, da Eureka Plast, Filomena Marques, do ISTEC, Miguel Almeida Dias da ACNAE, e Abílio Bragança Neto, politólogo e comentador da RTP-África.
O objetivo da tertúlia foi clarificar a situação angolana em véspera de eleições, a viabilidade do próprio processo eleitoral, das propostas das principais forças políticas em presença, avaliando o mandato do actual presidente.
O debate foi vivo e intenso, contando com várias e diversas posições. A maioria dos presentes considerou expectável a vitória do MPLA nas próximas eleições, apontando causas objectivas para tal vitória, como o reconhecimento internacional do trabalho do Presidente João Lourenço, o início da luta contra a corrupção ou o sucesso do programa do FMI. Outros acrescentaram que a vitória previsível do partido do governo assentaria também no modelo constitucional do sistema eleitoral, admitindo que a concorrência eleitoral é um facto indesmentível, havendo, de facto, debate como nunca houve no passado. Alguns insistiram que viam como provável uma vitória da oposição, mas não foram sufragados pela maioria dos presentes.
Muitos consideraram notório, por parte de uma das principais forças da oposição, a disputa sobre a transparência do processo eleitoral, o que poderá contribuir para inquinar o próprio processo. A deslegitimação do processo eleitoral pode acabar por ser algo de nefasto para a democracia.
É manifesto que a mesma força que questiona o processo eleitoral e os meios ao dispor para a campanha -cobertura noticiosa por meios públicos e privados de comunicação — é a que tem registado o melhor desempenho mediático, especialmente devido ao uso das redes sociais e a um súbito acesso a palcos internacionais, por vezes com ligações a personalidades como o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán. Tal levantou dúvidas, relativamente a alguns dos presentes, face aos meios à disposição, e aos apoios disponibilizados, suscitando receios de que a UNITA esteja, talvez involuntariamente, ao serviço dos interesses oligárquicos desafiados pelo governo de João Lourenço. Como se a luta contra a corrupção encetada pelo actual governo, nos últimos cinco anos, que foi realizada contra amplos setores historicamente ligados ao MPLA, tivesse suscitado uma contra-ofensiva política e mediática desses mesmos interesses, que recorrem à campanha presidencial para atacar o governo reformista de João Lourenço.
Estes temas foram debatidos com vigor pelos presentes. Uma das críticas recorrentes foi a do alcance ainda limitado das reformas do actual Governo embora fosse reconhecido que a conjuntura, com a baixa dos preços do crude e o COVID, não fosse compaginável com realizações imediatas, não sendo possível que neste último quinquénio se fizesse o que não foi conseguido nos 37 anos anteriores.
Os presentes destacaram, ainda assim, a tentativa de moralização do regime e o prestígio internacional da ministra das Finanças, um quadro formado em Angola. A melhoria das condições de vida alcançada no período pós-pandémico.
Também o paulatino enfraquecimento da posição da China como parceiro preferencial de Angola, foi sublinhado.
No contexto atual, foi ainda referido o alinhamento de quadros originários do MPLA na candidatura de Adalberto da Costa Júnior, o que demonstra um realinhamento das forças em presença.
O consenso final obtido no debate refere a necessidade de acelerar o ritmo das reformas, diversificar a economia angolana e assegurar a criação de emprego. A provável subida de votação da UNITA, apesar da vitória do MPLA, mais do que provável alicerçada na superioridade do número e qualidade dos seus quadros, e na constituição dos círculos provinciais e no círculo nacional.
É também notório que dificilmente outro presidente estará à frente da República Angolana ao longo de três décadas, e isso em si mesmo é já uma mudança.
11/08/2022
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