Exportações de bicicletas ultrapassam 400 milhões de euros;

Portugal é o maior fabricante europeu
Exportações de bicicletas ultrapassam 400 milhões de euros
“As exportações de bicicletas portuguesas quase triplicaram nos últimos cinco anos, ultrapassando os 400 milhões de euros” – revelou Gil Nadais à “Vida Económica”. O secretário-geral da Abimota refere que Portugal é hoje o maior fabricante europeu na fileira de duas rodas, produzindo 2,7 milhões de biciletas por ano.
A Comissão Europeia acaba de atribuir ao projeto Portugal Bike Value o Grande Prémio de Apoio à Internacionalização de Empresas, reconhecendo a expansão e da capacidade exportadora da indústria portuguesa.
Os prémios EEPA foram anunciados há dias em Berlim, distinguindo os melhores projetos na atividade empresarial. Os European Entreprise Promotion Awards, são uma iniciativa da Comissão Europeia alinhada com as prioridades da estratégia Europa 2020 e coordenada em Portugal pelo IAPMEI.
Portugal Bike Value é um projeto criado em 2015 pela ABIMOTA, que visa promover a fileira das duas rodas portuguesa além-fronteiras. Em 2019, Portugal atingiu a posição de maior produtor europeu de bicicletas, com um número recorde de 2,7 milhões de unidades produzidas, e um valor de exportação superior a 400 milhões de euros.
Para Gil Nadais, esta vitória reflete o reconhecimento internacional do Portugal Bike Value, e espelha o bom momento que o setor das duas rodas nacional atravessa. “Quando implementámos este projeto em 2015, Portugal exportava qualquer coisa como 150 milhões de euros e quase triplicámos esse valor em cinco anos.” – afirma.
Segundo refere, este crescimento e sobretudo o reconhecimento internacional do setor deve-se a todo o trabalho realizado pela indústria que afirmou Portugal como destino de qualidade, inovação e empreendedorismo. 
“Temos entre nós a primeira empresa do mundo a soldar quadros em alumínio através de robôs, as linhas de pintura mais avançadas, mas também a empresa que faz os selins para bicicleta mais leves do mundo (24 gramas n.d.r.), uma das empresas que mais patentes registou no país, fábricas que fazem rodas quase em exclusivo para equipas de competição e, dentro de poucos meses, a primeira fábrica de quadros de carbono fora do continente asiático. Temos também a maior fábrica de montagem de bicicletas e a maior fábrica de rodas para bicicleta da Europa”. referiu Gil Nadais.
Para Rafael Campos Pereira, vice-presidente executivo da AIMMAP – Associação dos Industriais Metalúrgicos e Metalomecânicos, o segmento da indústria de bicicletas é um exemplo de sucesso e crescimento neste setor. A fileira da metalurgia e metalomecânica abrange uma grande diversidade de subsetores, incluindo o automóvel e aeronáutico, sendo a principal indústria em volume de exportações.
 
Nova fábrica de quadros em fibra de carbono
 
Além do crescimento em volume de unidades produzidas e exportadas, as bicicletas estão a evoluir rapidamente em valor e preço. O próximo passo vai ser dado com a instalação em Portugal da primeira fábrica de quadros em fibra de carbono. Até agora os quadros em fibra de carbono eram produzidos apenas na Ásia.
O investimento na nova fábrica vai ser feito com capitais estrangeiros e representa a entrada da indústria nacional num novo patamar das bicicletas mais caras e com maior valor acrescentado.
Os quadros em fibra de carbono, pelas suas características de leveza e robustez,  destinam-se ao segmento médio e alto do mercado e à competição, com preços de venda que podem atingir os J10.000 e nunca são inferiores a J1000 por bicicleta.
 
Renascer das cinzas
 
O novo “boom” da indústria portuguesa de bicicletas contrasta com a crise profunda que o setor das duas rodas atravessou. As bicicletas atuais pouco têm que ver com as marcas do passado como a Vilar ou a Órbita. A mudança dos hábitos do consumo e a massificação do automóvel levou ao desaparecimento da indústria de motociclos que tinha a Casal e Sachs como principais fabricantes.
Mas, como existia o conhecimento e especialização na indústria de duas rodas, várias empresas conseguiram investir e crescer, beneficiando do novo perfil de procura.
Ao contrário do que acontecia no passado, a procura não está tanto na clientela jovem nem nos clientes com pouco poder de compra que utilizam a bicicleta como único meio de locomoção, mas sim nos segmentos de desporto e lazer com poder de compra e atentos aos novos materiais, às melhores características e desempenhos e aos fatores de estética, moda e exclusividade.
A evolução do mercado fez com que o segmento de maior valor – que estava nas motorizadas –, se deslocasse para as bicicletas favorecendo o crescimento das deste setor. A mudança tem reflexos ambientais. Os motores ruidosos e poluentes a dois tempos deram lugar aos pedais ou aos pequenos motores elétricos silenciosos e sem emissões.
Entre os segmentos com maior procura destacam-se as bicicletas elétricas. Em 2017, Portugal quase não produzia nem exportava bicicletas elétricas. No ano seguinte, exportou 17 milhões de euros. Em 2019, as exportações de bicicletas elétricas dispararam para 60 milhões de euros. E este ano, apesar da pandemia, até setembro estavam atingidos os valores de 2019, com um crescimento significativo na Alemanha, Países Baixos e Escandinávia. 
 
Mecânica de precisão e tecnologia de ponta
 
Ao contrário do que acontecia no passado, quando a produção se concentrava em bicicletas básicas e tradicionais, a procura atual envolve cada vez materiais e componentes com muita tecnologia, design e inovação.
Além das bicicletas que são fabricadas para as principais marcas e cadeias internacionais internacionais, está a haver um forte crescimento da produção de componentes como selins, cassetes, travões de disco, suspensões, guiadores, desviadores, correntes e pedais.
O cluster das bicicletas está localizado maioritariamente na zona de Águeda, Anadia e Vagos, mas há outras empresas em outras regiões do país numa faixa que vai de Vila Franca de Xira a Braga.

Covid 19 aumenta vendas de bicicletas e componentes

Nos países da Europa onde os governos não decretaram a paragem da atividade económica, devido à pandemia da Covid-19, a procura de bicicletas e e-bikes disparou, o que está a provocar uma procura elevada na produção nacional, com algumas empresas a trabalhar a 100%, mantendo estritamente as regras de segurança para conter a propagação do vírus.
A necessidade de novas respostas no que à micromobilidade diz respeito, nomeadamente nos mercados centro e norte-europeus, está a criar uma enorme pressão nos pontos de venda e como tal também na produção de bicicletas e e-bikes.
O público não confia nos transportes públicos, pois o ato de evitar concentração de pessoas e proximidade social é fundamental para controlar a propagação do novo coronavirus. Por outro lado, o uso, ou mesmo a aquisição do automóvel, não se apresenta como opção para deslocações curtas e não só e por isso os mercados, com enfoque na Alemanha, aumentaram significativamente a procura de bicicletas e e-bikes.´
Portugal é, assim, o local óbvio para responder às necessidades do mercado. Cadeias de distribuição curtas, capacidade de produção e a qualidade do produto final, são fatores que provocam e sobretudo aumentam a procura do nosso mercado, enquanto fornecedor.
“A capacidade de resposta e a criatividade das nossas empresas e empresários estão a ser testadas e a resposta ao teste está a ser plenamente positiva” – afirma Gil Nabais. “Não podemos deixar de referir que este é o caso de algumas empresas que exportam para mercados onde as pessoas têm possibilidade de ir trabalhar, porque, onde as restrições são maiores, o mercado está fechado e as empresas estão a paralisar”.

 

Maiores mercados 
de exportação
 
1- Espanha
2- Alemanha,
3- França
4-  Países Baixos
5- Itália.

Principais fabricantes 
de bicicletas
 
  • RTE
  • AjMaias
  • Incycles
  • Esmaltina
  • Interbike,
  • Unibike
  • FJBike

Principais fabricantes 
de componentes
 
  • Miranda & Irmão
  • Rodi
  • SRAM Portugal
  • Triangles.

 

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