As mulheres (e os homens) e a Inteligência Artificial;

As mulheres (e os homens) e a Inteligência Artificial
Felizmente, pelo menos no mundo dito ocidental, está cada vez mais enraizado que a competência profissional é independente de se ser mulher ou homem. Foi longo o caminho percorrido para se chegar até aqui, mérito acima de tudo das mulheres, no entanto, ainda é surpreendente que por exemplo a presença feminina no setor das TI se mantenha em Portugal abaixo dos 20%. Esta situação repete-se um pouco por toda a Europa, como demonstra um estudo recente da McKinsey que aponta para um peso de apenas 22% de mulheres a trabalhar em empresas tecnológicas. De acordo com a consultora, se a Europa duplicar a presença de mulheres nas TI até 2027, poderá beneficiar de um impacto positivo de 260 mil milhões de euros no PIB.
Além do impacto económico, esta baixa representatividade feminina tem repercussões em várias áreas de desenvolvimento tecnológico e de inovação. A Imprensa mundial tem noticiado diversos episódios de discriminação (de género e outras) relacionados com sistemas de Inteligência Artificial, por exemplo, em softwares automatizados de recrutamento ou em algoritmos que “objetificam” a imagem das mulheres nas redes sociais. Esta é uma tendência preocupante que precisa de ser abordada se quisermos construir um futuro melhor para todos.
São várias as questões que aqui se levantam: existe diversidade nas equipas que desenvolvem os sistemas de IA? Que dados alimentam o sistema de Inteligência Artificial? São completos, confiáveis e imparciais? O algoritmo compensa possíveis enviesamentos nos dados que o alimentam? Com que finalidade e em que contexto o algoritmo foi desenvolvido? O sistema está orientado para o bem comum? Que usos podem ser feitos deste sistema?
São questões pertinentes que devemos fazer como sociedade e que apontam para uma visão crucial: a Inteligência Artificial está a contribuir para combater a discriminação ou, pelo contrário, está a agravá-la? O potencial transformador da inteligência artificial exige que asseguremos que o seu desenvolvimento se realize no âmbito de um compromisso ético e de uma vocação orientada para o bem comum.
Temos de aumentar a diversidade nas equipas responsáveis pela criação e teste de sistemas de IA. As mulheres precisam de ser mais envolvidas no desenvolvimento de sistemas de IA para assegurar que a tecnologia seja neutra. É um imperativo moral aumentar a representatividade das mulheres na indústria que está a moldar o nosso futuro, tornando a tecnologia mais humana.
Outra questão mais genérica a resolver é que as mulheres possuem, de uma maneira geral, níveis mais altos de escolaridade e, contudo, continuam por vezes a receber salários mais baixos do que os seus congéneres masculinos. O pior é que muitas vezes os homens nem se apercebem desta injustiça, felizmente atenuada nos últimos tempos. Muitas empresas, como aquela onde trabalho, têm politicas para combater esta desigualdade, mas sem se cair numa lógica de antagonismo. A verdade é que mais do que oposição, existe complementaridade entre homem e mulher. Não deve haver aqui uma mentalidade competitiva mas sim reforçar os objetivos em comum, não ter medo das diferenças, pelo contrário valorizá-las, caminhar e crescer juntos.  
 


Pedro Madeira Rodrigues, da direção de Marketing e Comunicação da Minsait Portugal
Susana Almeida, 06/03/2023
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