Operadores do setor automóvel “têm de transformar-se”;

Diogo Santos, partner da Deloitte, avisa
Operadores do setor automóvel “têm de transformar-se”
Toda a cadeia de valor do setor automóvel, entre os quais importadores, retalhistas e oficinas, têm de passar por um processo de adaptação a um mercado que está a mudar, de acordo com Diogo Santos, partner da Deloitte. “Toda a cadeia de valor tem de se transformar, adaptando-se, entre outros aspetos, a novos padrões de mobilidade (por exemplo a redução do peso do automóvel no mix modal), aos novos tipos de veículo que requerem serviços de apoio distintos (como mais eletrónica e menos mecânica), a um novo paradigma do automóvel como benefício atribuído pelas empresas aos seus colaboradores, e a novas expectativas dos consumidores relativamente à utilização do automóvel (por exemplo, a posse vs. utilização ou mais e melhores funcionalidades de conectividade)”, disse à “Vida Económica”.
 
A evolução que se perspetiva até 2035 no estudo da Deloitte “Future of automotive, sales and aftersales” (numa tradução livre “Futuro das Vendas e Pós-venda de Automóveis”) compreende realidades muito distintas e com perspetivas de evolução bastante diferentes, nomeadamente China, Estados Unidos e Europa. A conclusão que chama a atenção é que a realidade será diferente na China e nos dois mercados ocidentais. Enquanto se perspetiva uma estagnação ou crescimento residual nas vendas na Europa, o mercado chinês crescerá mais de 60% até 2035. Nesse mesmo ano, as vendas de veículos não movidos a combustão interna representarão mais de 80% dos novos veículos na China, mas menos de 50% nos Estados Unidos.
 
Portugal acompanhará tendências
 
Diogo Santos considera que, dentro da realidade europeia, o cenário luso não há de diferir muito. “Seja pela proximidade sociocultural, seja pelo próprio ambiente regulatório que é mais comum entre países do que diferente, não se antecipam diferenças significativas no horizonte de longo prazo do estudo (2035), e todos os países tenderão a convergir no mesmo sentido”, considera o partner da Deloitte.
“Adicionalmente, tomando como referência a rapidez de adoção e a taxa de penetração de novas tecnologias (como os  smartphones) e de soluções de mobilidade (como seja o ‘ride-hailing’ e micromobilidade), verificaremos em Portugal uma evolução, no mínimo, em linha com o resto da Europa”, prevê a nossa fonte.
 
Empresas devem procurar 
receitas complementares
 
Se para as vendas o cenário não é famoso, para o mercado oficinal o cenário é mesmo, no estudo, até 2035 de forte quebra. “O nosso estudo prevê uma queda do mercado de pós-venda nos principais países da Europa de aproximadamente 40% entre 2018 e 2035, como consequência da redução do peso dos veículos a combustão interna, que são, naturalmente, mais consumidores de serviços de oficina. Como tal, a receita proveniente deste tipo de serviços tenderá a diminuir e não será esta a boia de salvação do setor”, avisa Diogo Santos. 
O partner da Deloitte indica, porém, que existem outras áreas “com potencial de constituírem novas linhas de receita para o setor automóvel”, como sejam os serviços de mobilidade (car-sharing, mobility as a service), serviços financeiros e mesmo serviços de natureza tecnológica associados ao “car as a platform”.
 
Aquiles Pinto, 10/09/2020
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