Golfe gera receitas diretas de 120 milhões de euros;

Miguel Franco de Sousa, Presidente da Federação Portuguesa de Golfe, afirma
Golfe gera receitas diretas de 120 milhões de euros
O Portugal Masters é o maior evento nacional de golfe. A prova arrancou ontem (dia 20) e termina no domingo (23) e envolve prémios aos participantes no valor de dois milhões de euros.
Em entrevista à Vida Económica, Miguel Franco de Sousa, presidente da Federação Portuguesa de Golfe, destaca o impacto desta competição e a importância da modalidade.
O golfe combate a sazonalidade da atividade turística, gera receitas de 120 milhões de euros e cria milhares de empregos.
Como fator desfavorável, Miguel Franco de Sousa refere a tributação de IVA a 23%, que está muito acima do valor praticado nos países do Sul da Europa e agrava os custos para os praticantes.

Vida Económica -  O Portugal Masters vai ser o maior evento de golfe realizado em Portugal?
Miguel Franco de Sousa  -
O Portugal Masters é a principal e maior competição profissional de golfe realizada em Portugal e está dotada de dois milhões de euros em prémios monetários. O prestígio e a notoriedade internacionais da prova conseguiram atrair mais 150 jogadores estrangeiros, vários do top 20 mundial, e, claro, através da elite nacional que está representada por 10 jogadores. A participação de grandes estrelas mundiais como o espanhol Sergio Garcia, o irlandês Padraig Harrington e o inglês Danny Willett trazem um brilho especial a este Portugal Masters.
É fundamental que Portugal aposte em eventos desta natureza, pois a projeção mediática consequente é absolutamente determinante para a afirmação de Portugal enquanto um dos principais destinos de golfe mundiais.

VE - Quanto tempo levou a ser preparado e qual é o orçamento envolvido?
MFS -
O planeamento de uma competição desta magnitude é feito ao longo de todo o ano, no entanto, a preparação logística, tal como tendas de hospitality, zona comercial e bancadas, entre outros, é feita nas quatro semanas e meia que antecedem o evento.
O European Tour, o promotor do Portugal Masters, tem uma equipa de cerca de 65 pessoas dedicada à organização do evento, desde a direção de torneio, passando pela logística, fisioterapeutas, arbitragem e, inclusivamente, uma equipa de meteorologistas.
Existe ainda a componente de manutenção que obriga a uma intervenção por parte do proprietário do campo de golfe para que o mesmo se apresente em perfeitas condições de jogo. Vale a pena referir que a Dom Pedro Golf fez um excelente trabalho de recuperação do campo para a edição de 2018.
O investimento global no evento é superior a três milhões de euros.

VE - Quais são as principais fontes de financiamento?
MFS -
O Turismo de Portugal é o principal patrocinador do torneio. O apoio público à promoção da modalidade tem que continuar e, desejavelmente, deveria ser reforçado, para que possamos afirmar Portugal, de forma continuada, como o melhor destino de golfe do Mundo. Este estatuto, para se manter, requer investimento, e, se olharmos para os números do golfe, vemos que o efeito multiplicador na economia, no turismo, no emprego, na hotelaria recomenda que o Turismo continue a apostar no golfe como um produto vencedor na promoção externa do destino Portugal!
O golfe atrai mais de 400 000 turistas todos os anos, que gastam cerca de J400 milhões. Só em receitas diretas, o golfe representa J120 milhões e gera 3000 postos de trabalho diretos.
Seria muito bom para o país se tivéssemos um evento profissional de golfe de primeira linha com prémios de jogo na ordem dos J3,5 milhões. Isso iria atrair um nível de jogadores ainda melhor e isso traria um retorno mediático muito superior ao atual. Ter um torneio que se situa na média do calendário do European Tour não deve ser a nossa medida, devemos apontar para torneios de classe mundial. Portugal tem que estar na “Liga dos Campeões” do Golfe e para isso o apoio do Turismo de Portugal é imprescindível e tem que continuar.

VE - Está modalidade é praticada ao longo do ano e contraria a sazonalidade do turismo?
MFS -
É cada vez mais praticada ao longo de todo o ano, embora com grande incidência em meses que fogem do perfil da oferta do Algarve, tal como o Sol e Mar, e isso faz com que o peso da sazonalidade seja mitigado.
O golfe é uma indústria muito importante para o país e contribui para a atração de turistas, por um lado, e, por outro, para o investimento, nomeadamente no que diz respeito ao imobiliário de qualidade. Para dar uma ideia, 36,3% do total de praticantes federados – 5408 – são estrangeiros que residem em Portugal.
Imaginar o Algarve sem o golfe é uma visão muito preocupante, pois uma região cuja oferta é fundada em 3 ou 4 meses do ano faz com que se tenham de encontrar alternativas para os restantes meses e o golfe é o único produto que pode atenuar os efeitos adversos da sazonalidade. Apostar no golfe é a melhor garantia de que os efeitos da sazonalidade são mitigados e de que pode haver maior sustentabilidade económica no setor.

VE - Em comparação com os países europeus, o número de praticantes portugueses da modalidade tem potencial para crescer?
MFS -
Tem, pois. O clima e a capacidade instalada fazem com que o nosso potencial de crescimento seja muito grande. Mas para isso importa levar a cabo estratégias para a captação e retenção de jogadores portugueses, através de um trabalho em rede e de forma colaborativa com todos os agentes da modalidade, nomeadamente os campos e clubes.
A FPG está a levar a cabo uma reestruturação do modelo de governação no sentido de capacitar os clubes e campos de golfe a desenvolverem este trabalho de forma sustentável. Falo na criação de escolas e academias de golfe regidas por um conjunto de princípios que poderão contribuir para que as taxas de captação e retenção aumentem, falo no desenvolvimento de estratégias de marketing para atrair segmentos estratégicos, como é o caso das senhoras e famílias, falo também na formação de treinadores de qualidade, enfim, todo o desenvolvimento de um trabalho de base que trará enormes benefícios no médio-longo prazo. O golfe é uma modalidade, erradamente, considerada cara e elitista. Uma boa parte do nosso trabalho é, justamente, quebrar essa perceção errada e mostrar que é uma modalidade acessível a todos, em termos financeiros e de prática desportiva!

VE -  A instalação e manutenção de um campo pode ser viabilizada pelas receitas dos utilizadores ou depende em parte da valorização dos imóveis que o rodeiam?
MFS -
Essa é uma questão que não tem uma resposta padronizada, pois depende do modelo de negócio preconizado pelo promotor, bem como da região do país onde está inserida a instalação. Mas posso afirmar que um campo de golfe, mesmo fora do Algarve, pode ter um resultado de exploração equilibrado se forem acautelados alguns aspetos fundamentais nas várias fases do processo. É crucial trabalhar com dados realistas e cenários conservadores. Os campos de golfe são peças importantes para o desenvolvimento do território. Acredito que os municípios portugueses olham para os campos de golfe como motores importante das economias locais, como centralidades relevantes na criação de emprego e de ofertas turísticas, hoteleiras e residenciais de enorme qualidade. Quando os investimentos são bem acompanhados e acarinhados pelos poderes públicos, quando têm capacidade de aproveitar sinergias e de beneficiar de dinâmicas locais, são atrativos para os praticantes da modalidade e capazes de captarem novos públicos.

VE - A descida do IVA no golfe é uma reivindicação antiga. Vê como possível uma descida já no próximo Orçamento de Estado?
MFS -
Vamos bater-nos por isso e iremos solicitar audiências no Parlamento assim que a proposta do Orçamento de Estado der entrada no Parlamento. O IVA a 23% representa uma limitação num produto turístico que, porventura, é o que mais rentabilidade traz ao país. A melhoria económica do país deve traduzir-se numa redução deste imposto que penaliza o desenvolvimento do setor. Adicionalmente, temos que pensar que manter o estatuto de melhor destino de Golfe do mundo implica pensar a médio e longo prazo. Nesse sentido, acreditamos que este é o momento de materializar uma descida no IVA. Seria um legado importante que o atual governo, no último ano do mandato, poderia legar ao setor.


Portugal Masters

 O torneio é transmitido em mais de 80 países chegando a mais de 400 milhões de lares em todo o mundo.
 Investimento global no evento é superior a três milhões de euros
 “Prize money”: dois milhões de euros
 São esperados cerca de 50 mil espetadores
Mais de 150 jogadores
 

Golfe em Portugal

3000 postos de trabalho diretos
400.000 turistas/ano de golfe
420 milhões de euros impacto económico do Golfe – excluindo real estate
27,6 milhões de euros em receita de IVA relacionada com produtos de golfe (green fees, alugueres e merchandise)
Número de campos de 18 e 9 buracos - 16 de 9 buracos + 58 de 18 buracos
Número de campos de golfe em Portugal, Açores e Madeira - 74 (havendo um total de 99 percursos)

O campo

O Victoria Golf Course, com uma área de cerca de 90 hectares, é um “championship signature course”, Par 72, desenhado pelo lendário Arnold Palmer, medindo 6651 metros a partir das marcas brancas. Considerado um dos melhores e mais desafiantes campos de golfe da Europa, este campo foi o projeto de golfe mais ambicioso de sempre realizado em Portugal, tendo sido construído a pensar no potencial para acolher as principais competições de golfe internacionais. Nenhum esforço foi poupado na preservação tanto das zonas húmidas existentes como da vegetação autóctone, nomeadamente alfarrobeiras, oliveiras e amendoeiras. Os vários lagos, que ocupam uma superfície de espelho de água com cerca de 13 hectares, funcionam ainda como reservatório de água de rega. Neste campo ressalta a existência de 5 ou 6 tees por buraco, fairways largos e ondulantes, extensos obstáculos de água e bunkers bem posicionados. Outro atrativo é o excecional campo de treino e um putting green com uma generosa área de cerca de 2.500 m2. O Victoria Golf Course foi anfitrião do “World Cup Championships” em 2005 e recebe o Portugal Masters desde 2007.
 

 

Susana Almeida, 20/09/2018
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