Alívio fiscal é vital para as empresas;

Rafael Campos Pereira, vice-presidente executivo da AIMMAP, considera
Alívio fiscal é vital para as empresas
 “Se o PRR e o PT2030 continuarem a privilegiar o setor público e o estado continuar a sequestrar a maior parte das verbas, não será possível modernizar e fazer crescer o país”, afirma Rafael Campos Pereira.
“É fundamental que o IRS seja aliviado no sentido de os salários líquidos dos trabalhadores serem efetivamente aumentados. Apenas assim se evitará o êxodo dos trabalhadores mais qualificados” – afirma, em entrevista à “Vida Económica”, Rafael Campos Pereira, vice-presidente executivo da AIMMAP.
Ao nível dos fundos comunitários, defende que se deve “simplificar os processos e reduzir a burocracia” e “colocar as empresas e a atividade empresarial no centro das preocupações”.

Vida Económica – Que importância tem para as empresas e para o setor a realização de uma feira com a dimensão da EMAF?
Rafael Campo Pereira -
A EMAF é atualmente a mais importante feira dedicada ao setor metalúrgico e metalomecânico em toda a Península Ibérica, sendo uma importante montra do que de melhor se faz em Portugal nos segmentos das tecnologias de produção e das peças técnicas de elevado valor acrescentado.
Nesse sentido, a EMAF confere projeção e notoriedade internacional às empresas do METAL PORTUGAL, para além de atrair compradores de referência.

VE – Quais são os objetivos da participação da AIMMAP?
RCP -
A AIMMAP apoia e participa nesta feira, tendo em vista precisamente a promoção da internacionalização das empresas do setor, bem como o reforço da cooperação e da criação de sinergias entre as empresas portuguesas que representa.

VE – O setor metalúrgico e metalomecânico tem alcançado ano após anos recordes de resultados, a que se deve tal feito?
RCP -
O enorme sucesso do setor deve-se ao forte investimento das empresas em fatores de diferenciação, como a inovação, o I&D, a certificação, a propriedade industrial ou o design, bem como a responsabilidade ambiental e social. Para além disso, tem sido fundamental a aposta na qualificação e formação dos recursos humanos do setor. Finalmente, têm sido vitais as excelentes estratégias de internacionalização gizadas pelas empresas.
Para além do esforço das empresas, deve realçar-se igualmente o apoio concedido pelas principais entidades de suporte ao setor como a própria AIMMAP, o CATIM, o CENFIM, o INEGI, a CERTIF ou a PRODUTECH.

Inovação e incorporação de tecnologias no ADN das empresas

VE – Entre os participantes na EMAF, constata-se uma forte presença de empresas da área da tecnologia e inovação. Este é o caminho do futuro? Que importância tem a inovação para o setor?
RCP -
A crescente aposta na inovação por parte das empresas e das entidades do METAL PORTUGAL tem sido um fator decisivo para o crescimento das exportações e do VAB no setor. Nesse sentido, o investimento em inovação e a incorporação de tecnologias devem fazer parte do ADN das empresas. Essa é sem quaisquer dúvidas a mensagem que a AIMMAP dissemina junto das suas empresas, sendo de referir que a inovação é um dos principais eixos do Plano de Ação e Concretização que a associação concebeu no âmbito do projeto METAL2030.

VE – Áreas com maior incorporação tecnológica requerem mão-de-obra especializada, talento. Como está o setor metalúrgico e metalomecânico a este nível?
RCP -
O setor tem apostado fortemente na qualificação dos seus recursos humanos, nomeadamente através das ações desenvolvidas pelo CENFIM, pelo CATIM ou mesmo pela AIMMAP. Para além disso, há uma articulação crescente entre a AIMMAP e as empresas do setor e as faculdades de engenharia e gestão, bem como os institutos de interface (como o INEGI e o INESC-Tec), tendo em vista o reforço das qualificações de quadros médios e superiores.
Não obstante, temos a noção de que existe atualmente uma dificuldade crescente de atração e retenção de talentos. No sentido de fazerem face a tais problemas, as empresas têm incrementado os salários dos seus colaboradores.
Independentemente do exposto, em nosso entendimento, o esforço não poderá ser feito exclusivamente por empresas e trabalhadores. É fundamental que o IRS seja aliviado no sentido de os salários líquidos dos trabalhadores serem efetivamente aumentados. Apenas assim se evitará o êxodo dos trabalhadores mais qualificados.

VE – Os apoios dos fundos comunitários são essenciais à modernização, crescimento e internacionalização das empresas? Que aspetos há a melhorar a este nível?
RCP -
É fundamental simplificar os processos e reduzir a burocracia. Por natureza, as autoridade públicas portuguesas são hostis e preconceituosas relativamente às empresas. Existe uma desconfiança permanente que tolhe a tramitação dos processos. As entidades públicas que acompanham os projetos com fundos europeus inventam dificuldades que Bruxelas não impõe.
A simplificação deveria ser o principal objetivo. Para além disso, será fundamental colocar as empresas e a atividade empresarial no centro das preocupações. Se o PRR e o PT2030 continuarem a privilegiar o setor público e o estado continuar a sequestrar a maior parte das verbas, não será possível modernizar e fazer crescer o país.

Carga fiscal atrofia crescimento

VE – Até que ponto um alívio fiscal sobre as empresas e sobre o trabalho poderia ser importante?
RCP -
Mais do que importante, seria absolutamente vital. Reduzir o IRS permitirá aumentar os rendimentos disponíveis dos trabalhadores e das famílias. Reduzir o IRC potenciará aumentos salariais e mais e melhores investimentos por parte das empresas. Para além do exposto, é fundamental tornar mais previsível, mais estável e mais transparente todo o edifício fiscal. Nomeadamente, é fundamental eliminar as tributações autónomas.
A carga fiscal é uma tenaz que atrofia o crescimento. É necessário aliviá-la para libertarmos a economia.

VE – Quais são as prioridades de atuação da AIMMAP.
RCP -
As grandes prioridades e apostas da AIMMAP constam do seu Plano de Ação e Concretização recentemente apresentado e centram-se na atratividade do setor, no reforço da qualificação dos recursos humanos, no investimento em inovação e na promoção da internacionalização das empresas. Para além do exposto, a AIMMAP pretende ajudar as suas empresas a fazerem face aos dois grandes desafios do presente e do futuro próximo: a transição digital e a transição energética.

VIRGÍLIO FERREIRA (virgilioferreira@grupovidaeconomica.pt), 25/05/2023
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