Segmento de mercado das residências de estudantes representa forte potencial no Porto;

Opinião das consultoras imobiliárias
Segmento de mercado das residências de estudantes representa forte potencial no Porto
A oferta de alojamento para estudantes é ainda muito incipiente e não acompanhou o ritmo da procura verificado nos últimos anos
O Porto tem aproximadamente 80.000 estudantes a frequentar o ensino superior. Destes, 11.300 são estudantes internacionais, um número que duplicou nos últimos 5 anos. No ano letivo 2019, observou-se um total de 34.200 estudantes em mobilidade no Porto, incluindo estudantes internacionais e estudantes nacionais provenientes de outros distritos.
João Leite Castro, partner e diretor da Predibisa:

Atualmente, existem dois tipos de residências de estudantes no Porto. O primeiro tipo localiza-se maioritariamente na zona da Asprela e carateriza-se por edifícios de média/grande dimensão, destinados unicamente a estudante. A ocupação destes edifícios é principalmente feita por estudantes estrangeiros e estudantes que estão a tirar o mestrado ou doutoramento. Estes edifícios têm um funcionamento tipo ‘serviced apartments’. Já o segundo tipo localiza-me principalmente no centro do Porto e são edifícios que funcionam entre setembro e junho, como residência de estudantes, e em julho e agosto como ‘touristic apartments’.

C&W Andreia Almeida, associate e diretor de Research da Cushman & Wakefield:

A cidade do Porto conta atualmente com cerca de 40 residências para estudantes, num total de mais de 2800 camas, das quais 50% geridas pelas universidades. É um mercado em crescimento que, à semelhança do que se verificou noutras cidades nacionais, foi historicamente caracterizado pela disponibilização ‘interna’ de alojamento, através dos serviços de ação social das universidades, complementado pela oferta das entidades religiosas (7% do número de camas). Nos últimos anos, a escassez de oferta moderna e especializada neste setor, associada ao aumento da procura por parte de estudantes nacionais e internacionais, colocou a cidade no radar dos operadores privados, incluindo players internacionais como a Livensa Living e a Milestone, que em 2019 abriram uma unidade cada no polo universitário da Asprela, totalizando mais de 800 novas camas. Desta forma, a oferta privada é já responsável por 43% do número de camas, peso este que irá aumentar ao longo dos próximos três anos.

Maria Empis, Head of Research da JLL:

O mercado de residências para estudantes no Porto é recente e ainda reduzido.  A residência mais antiga, a SRPU, foi inaugurada há cerca de 20 anos, sendo que depois surgiram mais duas residências privadas, a Porto Alto e a Low Coast Studios, com poucas camas e não tendo as características das residências de estudantes construídas atualmente, no entanto, recentemente durante o ano 2019, a Milestone e a Livensa Living abriram quase ao mesmo tempo, e na mesma localização, tendo tido um enorme sucesso, com tipologias, posicionamento e preços diferentes entre elas. Hoje em dia há muita procura de estudantes portugueses, mas principalmente estrangeiros.
O Porto é uma cidade que tem vindo a atrair cada vez mais estrangeiros, no entanto, a maior parte dos estrangeiros são de países da CPLP, representando 59% dos estudantes estrangeiros. A maior parte dos estrangeiros vem no âmbito do programa Erasmus, mas são cada vez mais os que vêm para estudar os mestrados inteiros.  
A oferta de camas com qualidade é muito reduzida e hoje em dia, para os ‘millennials’, as características destas PBSA (Purpose Built Student Accommodation), onde é possível fazer amigos e ter espaços comuns para partilhar experiências, é essencial. Os serviços que complementam o alojamento são fulcrais: limpeza, ‘community manager’, bicicletas, ginásio, eventos, lavandaria incluída com toalhas, roupa de cama, etc.

Cristina Arouca, research diretor, CBRE Portugal:

O Porto, tem aproximadamente, 80.000 estudantes a frequentar o ensino superior. Destes, 11.300 são estudantes internacionais, um número que duplicou nos últimos 5 anos. No ano letivo 2019, observou-se um total de 34.200 estudantes em mobilidade no Porto, incluindo estudantes internacionais e estudantes nacionais provenientes de outros distritos.
A oferta de alojamento para estudantes é ainda muito incipiente e não acompanhou o ritmo da procura verificado nos últimos anos. De acordo com a análise realizada pela CBRE, no final de 2019, existiam no Porto 4700 camas para estudantes distribuídas por três tipos de oferta: residências de estudantes propriedade de instituições religiosas e universitárias, apartamentos ou quartos arrendados por particulares, e residências privadas desenvolvidas e exploradas por entidades especializadas nesta área. Nesta última categoria, de residências privadas com operação especializada, a oferta é composta por apenas 1100 camas.

Filipe Santos, associate diretor no Porto da Savills:

Devido ao incremento do número destes estudantes, podemos considerar que o alojamento disponível continua a não ser suficiente para suprir esta necessidade. Neste sentido, olhando para o mercado do Porto, continuamos a verificar que a solução para os estudantes estará no arrendamento de apartamentos privados, que representam a maior fatia.
No nosso mais recente relatório, SAVILLS Global Living, concluímos que, no mercado das residências de estudantes, o Porto é uma das cidades com a percentagem mais baixa do Sul da Europa, com uma taxa de oferta nacional inferior a 5% e que, comparada com os 27% do Reino Unido, nos permite concluir com facilidade e rapidez o percurso que ainda temos pela frente.
Segundo a Universidade do Porto, a população estudantil da cidade prevê superar este ano letivo de 2019/2020 a barreira inédita dos 6 000 alunos internacionais, de mais de 90 países de origem, que contribuem para um universo de cerca de 45.600 alunos inscritos no ensino superior na Área Metropolitana do Porto.
Susana Almeida, 24/01/2020
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