Abril “with love”;

Abril “with love”
Portugal era antes de abril um país “difícil” em múltiplos aspetos, destacando-se a falta de liberdade. Mesmo nas coisas mais simples, como contar uma piada sobre o regime ou entoar uma canção contestatária, havia perigo real de poder ser levado e interrogado pela polícia política. 
 
Era totalitário, retrógrado, numa cultura de segregação social e pobreza. Havia censura e, claro, presos políticos. Era horrível viver sem “liberdade”. 
 
O movimento hippie e a liberdade 
 
Ora, pouco tempo antes de abril, fui em viagem a Londres e a Amsterdão e tomei contacto com a “liberdade”, pois aí se desenvolvia o movimento hippie, mal conhecido em Portugal, espalhava-se agora pela Europa. Tinha apenas conhecimento deste movimento por amigos e através da música. Os verdadeiros hippies (movimento nascido em 1960 nos Estados Unidos) buscavam a paz, a liberdade, a igualdade e o amor. 
Rejeitavam os valores tradicionais da sociedade, como a competitividade e o materialismo, privilegiando a vida simples, em harmonia com a natureza, a paz, a criatividade artística e o amor.
Nessa viagem, tive algumas experiências positivas. Como era possível caminhar em procissão pelas ruas de Londres a cantar a música de George Harrison? Assisti a grandes transformações artísticas, sobretudo na área da música, com as novas bandas dos Beatles, Bob Dylan e Janis Joplin, por exemplo. Cabelos compridos e trapos coloridos, com colares de flores, era o normal e as artes plásticas, muito malucas, estavam em desenvolvimento. Como me deu felicidade sair deste país cinzento e cantar e passear nas ruas de uma metrópole sem censura. E, por outro lado, como foi triste o regresso a este país caduco, um verdadeiro choque emocional. 
Ora o 25 de Abril deu-nos a esperança de liberdade, da vida sem PIDE e sem censura, mas logo teve uma deriva esquerdista, um caminho para uma qualquer Cuba. Ficámos tristes e preocupados. As coisas estavam a ir no sentido errado.
Os partidos de esquerda, o PCP e o PS emergiram nesse período defendendo nacionalizações de setores industriais estratégicos e uma grande intervenção do Estado na economia. 
Nacionalizações e reforma agrária tiveram impactos negativos na economia e na estabilidade social.
O episódio marcante de que me lembro foi a abordagem que sofri de dois indivíduos quando fui visitar um familiar meu. Diziam-se da brigada “qualquer coisa” e exigiam-me o bilhete de entidade, dizendo “vais visitar um fascista!”.
Deixaram-me então passar, porque o meu carro tocava, nesse momento, música de Zeca Afonso. As coisas não estavam bem e só em 25 de novembro de 1975 e, para dizer “basta” às disputas de militares de diversas cores políticas que ambicionavam o poder, é que se desenvolveram forças democráticas, um movimento liderado pelo general Ramalho Eanes, um confronto armado contra o próprio movimento das Forças Armadas, neste momento revolucionárias e o PRP - Partido Revolucionário do Proletariado.
O confronto resultou numa vitória das Forças Democráticas, aí incluindo o PS de Mário Soares, e foi dirigido pelo general Ramalho Eanes. 
Ramalho Eanes foi, além de general político importante, eleito Presidente da República para dois mandatos, entre 1976 e 1986, e teve um papel relevante na consolidação da democracia, continuando ainda a ser uma referência na liberdade. Ele foi um defensor dos direitos humanos, da liberdade de expressão e da igualdade social. Continua presente nas nossas vidas. 
Este movimento contribuiu para a consolidação da democracia e foi o 25 de novembro que nos trouxe a esperança, novamente, da liberdade e a Europa. Por isso, eu comemoro o 25 de novembro com músicas de amor. É que ainda sou um pouco hippie. 
 
A viragem em 10 de março
 
As eleições de 10 de março, embora não determinem necessariamente uma viragem à direita, foram um momento em que os cidadãos expressaram, nas urnas, uma vontade de mudança, escolhendo representantes de outras forças políticas que não “as do costume”.
A política é um processo complexo e as mudanças ocorrem de situações várias económicas e de fatores sociais, por exemplo. Por isso venho afirmando que é necessário valorizar o resultado das urnas e ouvir e colaborar com ideias aprovadas pelos cidadãos. Os governos são constituídos por representantes que os cidadãos escolheram para liderar mudanças, não para nos deixar o país na mesma. A última sondagem para as europeias, à hora que escrevo, dão vantagem ao Partido Socialista seguido da AD e do Chega, constituindo estes últimos uma maioria de forças à direita. Ora, na minha opinião, nada disto interessa se não se der uma alteração aos processos crónicos de colocar dirigentes em cargos de topo das instituições, por amiguismo e familiarismo. 
É necessária a mudança baseada no mérito, no pragmatismo e na honestidade, a funcionar e, para isso, deve Portugal efetuar concursos internacionais e escolher os melhores, como preconiza a IL - Iniciativa Liberal. 
A Europa é uma comunidade e devemos escolher aqueles que nos podem ajudar. Deixemo-nos de ideias saloias do passado ou do paralelismo crónico local.
Mudar é mudar!
“O crescimento, a mudança e o desenvolvimento é que são normais e reais e a ausência de mudança leva à decadência, corrupção e morte” 
Peter F. Drucker 
António Lucio Baptista - Médico Cirurgião – Cardiovascular Consultant , 09/05/2024
Partilhar
Comentários 0