Atraso do PT2030 tem custo elevado para as empresas;

António Portela, CEO da Bial, afirma
Atraso do PT2030 tem custo elevado para as empresas
“Mantemos como grande objetivo ser uma companhia farmacêutica de inovação com presença global”, afirma António Portela.
“O Portugal 2030 está a demorar a arrancar e isso tem um custo elevado para as empresas” – afirma à “Vida Económica” António Portela, CEO da Bial. “É necessário colocar todos os programas em campo para que as empresas possam começar a beneficiar dos apoios para os seus projetos de desenvolvimento”, acrescenta.
Segundo o mesmo responsável, “o aumento da já elevada carga fiscal global e os modelos de criação de receita via impostos não são potenciadores do crescimento das empresas e do país que todos ambicionamos”.



Vida Económica – Qual é a importância da I&D na Bial?
António Portela -
Nos anos 90, a BIAL criou um Departamento de Investigação e Desenvolvimento com o objetivo de conseguir descobrir e trazer ao mercado novos medicamentos.
Desenvolver um novo medicamento demora em média 12 a 15 anos, envolve custos enormes e tem uma probabilidade de sucesso muito baixa. Ao apostarmos na inovação corremos enormes riscos, mas considerámos que a I&D deveria ser a aposta estratégica da companhia, ambicionando trazer novos medicamentos ao mercado e, assim, dar uma dimensão diferente à empresa.
Hoje, o nosso medicamento para a epilepsia, que foi lançado em 2009, está disponível na Europa e nos EUA, e o nosso antiparkinsoniano, lançado em 2016, está também comercializado em vários países europeus, nos EUA, assim como no Japão, Coreia do Sul ou Austrália.
Atualmente, alocamos, em média, mais de 20% da faturação anual à I&D, que está centrada nas neurociências e nas doenças raras. Temos uma equipa de mais de 130 pessoas dedicadas à I&D, de 14 nacionalidades diferentes, e que trabalha com universidades, indústria e centros de investigação de todo o mundo para continuarmos a entregar medicamentos inovadores.
Hoje podemos dizer que a BIAL é uma farmacêutica internacional de inovação, e este é o caminho que continuaremos a seguir. Mas nada disto seria possível sem termos uma equipa com enorme qualidade e competências, que tem sido capaz de desenvolver um projeto único em Portugal. As pessoas são a base do nosso projeto.

VE – Já na quarta geração da família, que valores continuam a ser preservados?
AP -
Para a BIAL, desde sempre, existem valores basilares que nos permitiram construir e sedimentar a empresa que hoje temos. Acho que as diferentes gerações de colaboradores que passaram pela empresa, bem como as pessoas que trabalham connosco hoje, têm como pontos comuns o profissionalismo, o empenho, o respeito pelos outros, a ética e integridade e uma enorme dedicação ao projeto BIAL. Estes são princípios que sempre nortearam a nossa forma de estar e que continuam a estar presentes no nosso dia a dia.

VE – Existe uma queixa generalizada em criar e fixar talento. Sentem essa dificuldade? Que deveria ser feito a este nível?
AP -
Gerir pessoas é sempre um desafio. O facto é que a empresa tem cerca de 800 trabalhadores e muitos trabalham na BIAL há vários anos. Acreditamos que as pessoas se mantêm nas empresas pelos projetos em que acreditam e é, certamente, o que acontece na BIAL.

O PRR e a “burocracia associada”

VE – Em termos de apoio ao investimento, que observação faz à execução dos programas comunitários, em especial, Portugal 2030 e PRR?
AP -
BIAL tem beneficiado de diversos apoios no desenvolvimento dos projetos e nos seus 30 anos de dedicação à investigação e desenvolvimento. Sem esses apoios não teria sido possível chegarmos onde estamos hoje. Os programas anteriores foram absolutamente fundamentais para podermos ter recursos financeiros adicionais para competir num setor onde somos uma pequena/média empresa à escala internacional.
O Portugal 2030 está a demorar a arrancar e isso tem um custo elevado para as empresas. É necessário colocar todos os programas em campo para que as empresas possam começar a beneficiar dos apoios para os seus projetos de desenvolvimento.
Não tenho grandes expectativas para o PRR. Acho que o nível de execução vai ser reduzido e muito pouco centrado nas empresas. Oxalá esteja enganado, mas o tempo que falta para beneficiar do PRR é muito curto e os projetos demoram a implementar, principalmente quando há burocracia associada.

VE – Relativamente às linhas financeiras para apoio às empresas, deveria haver menos custos de contexto ao nível da burocracia e fiscalidade?
AP -
Naturalmente que nos preocupam os entraves que prejudicam a fluidez do negócio da empresa. Apesar do esforço de simplificação administrativa que tem vindo a ser feito, os níveis burocrático e fiscal que temos no nosso país em muito condicionam a agilização e a celeridade da gestão dos processos.
A simplificação dos processos administrativos é essencial para permitir o dinamismo necessário ao crescimento económico e para potenciar o investimento. O aumento da já elevada carga fiscal global e os modelos de criação de receita via impostos não são potenciadores do crescimento das empresas e do país que todos ambicionamos.

VE – Qual é a importância e que expetativas estão reservadas para a conferência de junho a realizar no Porto?
AP -
O nosso centenário é um marco histórico para a empresa, para os nossos colaboradores e parceiros. A conferência que vamos realizar a 25 de junho vem evidenciar particularmente o compromisso com o futuro de Portugal e da Humanidade e tem como principal objetivo analisar os desafios que se colocam ao nosso país e ao mundo nas componentes social, económica e da saúde. Será um dia de reflexão e exposição de matérias essenciais de âmbito nacional, com a participação de figuras determinantes da nossa história.

Mercado externo representa 75% das vendas

“Estamos a desenvolver medicamentos para poderem ser comercializados à escala mundial. Estamos a desenvolver tecnologia inovadora para exportar”, afirma António Portela.
“O mercado externo representa uma fatia determinante no negócio da empresa, mantendo-se os mercados espanhol e americano como os mais importantes para a BIAL. Nos últimos 10 anos criamos filiais próprias nos principais mercados europeus – Espanha, Alemanha, Reino Unido, Itália e França. Em 2023, alcançámos receitas no valor de 340 milhões de euros com 75% das vendas no exterior. Mantemos como grande objetivo ser uma companhia farmacêutica de inovação com presença global, nomeadamente nos mercados de maior relevância, em que os EUA e a Ásia vão assumir um papel preponderante. Na Europa vamos consolidar o nosso investimento, assumindo um papel cada vez mais importante como player na área das neurociências.”


VIRGÍLIO FERREIRA virgilioferreira@grupovidaecononomica.pt, 11/04/2024
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